sábado, 3 de dezembro de 2011

desordem num passar de vida


Enquanto menina carrego preocupações sobre o futuro, faço planos e me perco neles como em busca de um caminho melhor para o traçado. Enxergo falta de perspectiva em dias não planejados e percebo a insegurança quando lágrimas caem sob ombros alheios em dias de tensão. Perco-me em dúvidas e questionamentos numa calçada qualquer ao som da recém descoberta, perco-me em imagens e músicas que guiam meu desequilíbrio. Guardo-me sozinha em momentos de angústia para fazer brotar sorrisos quando o importante me aguarda. E no desenrolar de uma vida, indago os propósitos preguiças permanências presente parafraseando o eterno retorno de Nietzsche.

Enquanto mulher me entrego a vida desregrada. Perco tempo e deixo momentos passarem sem que tivessem existido. Sou impulsiva, travessa e descoordenada. Danço em círculos ao som da mesma música. Repetidas vezes. Volto ao passado para sentir o gosto de uma alegria inédita. Experimento sentimentos procurando acertar o tom. Observo, sinto, ajo, reajo e tudo é sempre tão passageiro. A noite num piscar de olhos ao amanhecer. Pensamentos que já e ainda não mais enclausuram minha liberdade. E no passar de uma madrugada, já sou outra. E berro e brigo nas primeiras horas da manhã, dependendo do humor, dos dias que se seguem e do que me espera. Ou não. Sou simplesmente a mesma daqueles momentos que nunca existiram, doce e vulnerável.

Sempre volta outra pessoa.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

o peso de um coração vazio

Porque de repente o mundo parece pequeno, mas não cabe em minhas mãos. As verdades e invenções se confundem na história inventada da vida. E quando as palavras escapam, vêem junto das lágrimas. O excesso é acompanhado pela covardia que o peso trouxe. O mesmo peso que me esmagou durante a noite, que fez meus olhos úmidos e o coração descontente. O mesmo coração que por tão pouco se fecha, mas custa a se abandonar, que se faz de vítima quando está prestes a desmoronar, que sabe de sua escuridão e teme pelo mau tempo. Tempo aquele em que tudo era mais simples e o desconhecido era atrativo ao coração virgem, em que eu ainda não me era, mas alguém melhor, em que nós ainda não éramos e isso representava um mundo de possibilidades de ter. O mesmo mundo que hoje me parece tão pequeno, e insignificante, enquanto me tem sem eu tê-lo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

mr gaunt

O vento soprava lá fora. As folhas dançavam antes de se estenderem no chão, como se colocadas, uma a uma, diante daquela pintura. O quadro formado entre as divisórias do vidro. Do outro lado, este, só eu. A te imaginar enquanto chovia aqui dentro. As notas não acompanhavam a dor. A música soava estranha aos meus sentimentos. Brincavam de se camuflar em melancolia. Fantasiava-se de sonho. O despertar não seria sentido. A realidade era aquela.

Tentei. Fracassadamente, tentei. Rasguei páginas, piquei-as ao piano. Mas a música continuava a me perseguir, junto à lembrança de dias sem fim. Despi-me de todo pesar. Ele não me teria. Corpo, mente e notas pertenciam, agora, somente às criações. Dediquei-as todas ao novo. Pela mesma janela de vento e folhas, observei enquanto a canção se perdia junto ao frio. Açoitada pela chuva, logo se postou na terra molhada. Do amor que virou lama me restam as cicatrizes e os ecos do passado.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

meu coração impuro

ela contou que estava perdida que iria desabar a qualquer momento enquanto ele fingia que nada era realidade e que tudo aquilo não passava de um pesadelo que terminaria assim que abrisse os olhos e percebesse estar de volta naquele quarto de paredes amarelas onde tantas vezes os dois juraram amor e se deitaram sonhando e perdidos no espaço em que ninguem ousava ultrapassar só para que alguma privacidade imaginária fosse criada num lugar tão distante para então novamente se odiarem antes de partirem para outro qualquer em que pudessem mais uma vez se reencontrar e se apaixonar

eram vidas ou apenas momentos

bin & bleib dein

Enquanto pela cabeça eles passeiam, parecem correr a vontade, sem rumo, sem saber o caminho. Em outro tempo qualquer, eles fazem sentido. Vão e voltam, como memórias de um passado distante, como visualizações de um futuro por vir. Se enfrentam pela vitória, pela permanência, pela desculpa do sorriso. Aquele mesmo que vem nos dois tempos, mas que a só um pertence. Aquele que chega sem avisar e fica esperando pela compreensão. E quando ela não vem, se faz de despercebido e desaparece do mesmo modo como surgiu.

Os pensamentos que em algum momento se perdem num texto sem sentido.

sábado, 11 de junho de 2011

qual é a medida do carinho?

Como te deixar livre sem parecer que não me importo? Eu me importo, sempre. Meus pensamentos se remoem e condenam minha bondade demasiada. Os outros me condenam. E o que era simples na minha cabeça, de repente, se transforma em perturbação. Meu dia em câmera lenta, meus minutos que se congelam e eu só consigo pensar no quanto essa situação se desenrola pelo caminho errado. É como um novelo que se desmancha pela minha mente, embaraçando tudo o que encontra e deixando farpas por onde passa.

E eu aceito essa situação por dó, por piedade. Minha consciência pesa por ter causado a alguém aquilo que sempre condenei. Por ter feito aquilo que nunca desejaria que fizessem comigo. Por ter agido de maneira imprevisível, ter ido contra minhas supostas crenças. Sou ré, sou culpada. Sou o sul e sou o norte. Não consegui, não consigo, não conseguirei. Fico feliz por isso. E o martírio me faz continuar tentando corrigir os erros.

Por isso, talvez, aceite a situação e me contente em lidar de forma vaga com meus sentimentos. Para aliviar a carga que assumi e poder te querer em paz. Para mim, só para mim.


segunda-feira, 25 de abril de 2011

it hurts instead

Naquele dia eu calcei meu par de tênis, deixei os chinelos de lado, fazia frio. Seria uma simples volta até a próxima esquina, onde prometi que compraria pães para o café da manhã. Ainda com os olhos semi-fechados desci no elevador, torcendo para que nenhum estranho cruzasse meu caminho. Durante os poucos passos até meu destino, pensava em como tudo tinha acontecido tão rápido. Há pouco tempo atrás você apareceu na minha vida e transformau tudo o que um dia eu chamei de rotina. Você desfez meus hábitos, mudou meus costumes, se encaixou em meus dias, horas e minutos. E nada se compara a sensação de ter novas memórias. De poder andar tranquilamente pela rua e sorrir quando lembro do teu olhar na noite passada, quando riamos juntos e você pareceu tão bobo tentando me animar após um dia duro de trabalho. Você me ouviu, esperou meu desabafo, me consolou e me fez sorrir. Nem em meus melhores sonhos te imaginei antes de te conhecer. Cinco pães, por favor. E bombas de chocolate. Nunca resisti a elas. E suco de laranja. Porque sei que você gosta de café, mas não dispensa o suco. São esses seus costumes saudáveis que você custa a abandonar. É sua coragem mesmo frente a minha recusa em te acompanhar. O sol não saiu hoje, as nuvens escuras prenunciam a chuva. A garoa logo cai sobre minha cabeça, por sorte tenho seu blusão velho com touca. Você me aquece. No elevador meus olhos estão mais alertas, o frio me deixou rosada e o cabelo escorre pela touca. Em casa, tudo como deixei. Você. Sigo até o quarto para te ver adormecido entre as cobertas. Deito ao seu lado, minha resistência foi mínima. Ouço sua respiração, observo seus últimos segundos de sono. Você abre os olhos e me observa.

- onde você esteve todo esse tempo?
- esperando por você.

domingo, 10 de abril de 2011

around us

Te li, te vi ali, como sempre, como nunca. A cada linha te descobria de formas e jeitos como se outra pessoa aparecesse em minha frente e interpretasse aqueles outros mil personagens que nunca estão na minha presença. E então eu ficaria só achando que não te conheço e pronto. Mas não. Você é muito maior que isso. Isso que você é para mim e que tantos outros não conhecem. Você é maior que inúmeras partes, você é só. Você. E todos os rostos e trejeitos perdem a importância quando o inteiro se apresenta e meu sorriso se estampa na cena perfeita. Aquela do sorriso que não se nota, que não se percebe, mas que em pouco tempo todos estarão comentando. “É só a garota do banco ao lado.”

tornado

e quando chegar a hora saiba que estarei longe. não que em minha cabeça você pense de outra maneira, mas quis deixar explicado antes de partir e ter de te dizer isso de algum modo que não esse. que também não é a melhor maneira de me fazer entender. você sabe que depois da primeira palavra eu já estaria derramando todas as lágrimas que cabem no meu peito. e são muitas, meu amor. guardadas, esperando pela sua aprovação, pela sua não-desaprovação que sempre me cala frente aos problemas, as discussões, você. e quando recebê-las, será só isso e nada mais, palavras escritas em uma carta que levam toda a verdade que deixei de compartilhar por anos e que agora, quando já nada existe, resolveram me amaldiçoar. então as torno livres. acreditando que desse modo assim me torno também.

segunda-feira, 21 de março de 2011

queen bee

E a cada trago puxava todos os pecados e sinas daquela alma corrompida que ali foi parar desfeita em cinzas nas mãos do carrasco. Flutuava como névoa descendo até o cinzeiro, agora já liberta. Outra alma encontrava paz no quarto cigarro seguido, até o décimo quinto seriamos uma legião de assassinos vingando a indústria tabaqueira e entregando o fardo ao túmulo.

Já quase no fim, você sente o calor se aproximando das mãos, o cheiro forte que exala a cada suspirar e o toque aveludado se tornando úmido. Tal como a perfeição, você assiste o tempo ruir o que antes existia e agora só vive em sua mente e na fumaça que escapa e se desenha no ar.

No fim da tarde éramos mártires. As cinzas e corpos vagavam no mar de podridão, enquanto as almas impregnavam nossas mãos, roupas e cabelo. Mais uma noite de corações puros, mentes leves e pulmões encardidos. Mas a sujeira libertava e logo o dever nos chamaria para mais uma caixa de almas impuras.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

hazards of love

E foi o fim, antes fosse de policarpo, aqui só morrem as expectativas e um carnaval de memórias e renovação. O que foi doce ficou na lembrança de dias de sol, água e folia com queridas amigas. O resto serve de força para o novo e desconhecido. Taças de vinho, pôr-do-sol, aparições inesperadas, um vestido amarelo-limão e roxo, cabelos ruivos ao vento, o coração palpitando, o choro pela manhã, palavras que feriam, a tristeza tomando lugar do que seria uma nova chance. São marcas que me ensinam que nem sempre o que passou, acabou. Serviu. Me agarro aos fatos agora, cansei de sonhar, imaginar e traçar os planos que nunca vinham ou aconteciam. Me sinto livre. A paz chegou junto da minha confiança de que assim é definitivamente melhor. De que o que eu pensava ser, nunca foi. E que eu sempre fui boa nisso, ser eu mesma.

Assim, só.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

noite passada, noite de chuva

Eu te vi pelo canto dos olhos entrando, esperei que viesse em minha direção e não me assustei quando tocou meus cabelos. Eu já imaginava que seria assim. Você vem me surpreendendo cada vez mais. No fim, se tornou a pessoa carinhosa que eu desejei que fosse. Tarde demais? Talvez. Pode ser um novo jeito de encarar a mudança e o que se tornou de fato real.

Percebi melhor o seu sorriso, enquanto me ouvia falar. Notei o modo como tenta me tocar, seja numa brincadeira ou para pedir minha pele. Gosto do seu novo rosto durante as despedidas, como se esperando algo mais, como se pensando no que poderia ser ou como poderia ter sido. O abraço apertado de quem preza pelo presente e sente pelo futuro.

Os nossos corpos mal se tocando me deixavam bem. Como se aquela distância representasse a barreira pela qual somente o carinho pudesse ultrapassar. Eu prefiro não me aproximar a ter que perder esses momentos. E então, quando amanheceu, e tudo o que eu queria era te pedir um abraço, te vi sendo tão rápido quanto a minha resposta. É claro que te queria ao meu lado. Como se o tempo nunca tivesse passado. Mas, dessa vez, eu estava em paz.

Sem medir os atos, ações e tentar interpretar a situação, só senti o momento. Me deixei levar nos seus braços e me perdi no meu sono. A segurança me deixava leve, seu calor me fazia suar. O frio passou.

E então, como se a te esperar, adiei por alguns minutos a próxima noite. Até te ouvir do outro lado, preocupado como eu sabia que estaria. Aquele tipo de preocupação pela qual a amizade se mede.

Em resumo sucinto e sensato: te prefiro, meu amigo.