sexta-feira, 28 de agosto de 2009

através

Você terá o que pede, serei sua rainha coroada entre lençóis e travesseiros. Serei tua sereia entre mares e reinos submersos, a alma que ultrapassa as décadas e o fantasma que te acompanhará. Serei a fada dos teus sonhos e a besta em pesadelos. Navegarei ao seu lado por tormentas e atravessarei fronteiras munida da força que você me dá. Cruzarei desertos em tua busca, e travando lutas armadas te encontrarei clamando pela minha presença. Enquanto a cruz reluz em seu peito, minha imagem se posiciona em sua mente.

No vagão do trem você me observará caminhar e lá já saberá: o restante foi traçado, só me resta o início. Entre épocas vamos nos encontrar. Seja no campo entre flores, no palco ao som da música ou atravessando a avenida num farol aberto, nossos olhos vão se chamar e o tempo predirá os segundos que faltarão para o beijo.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

conto de natal

enquanto os flocos de neve caiam, eu sentia o frio tocar minha pele. estava mais gelado que o habitual, como se o ar tivesse parado por alguns segundos se preparando para receber a rajada de vento a seguir. nesse momento você apareceu branca e pálida diante de mim. seus longos cabelos loiros e a boca vermelha estarreciam meus olhos. e então percebi que caminhava na sua direção, sem controle sobre minhas ações, sua proximidade me assustava. mas você fugia, andava na minha frente como se me guiasse por um caminho que eu teria obrigatoriamente de percorrer. naquele momento entendi que você era meu destino.

caminhei sobre seus passos, seguindo sua visão e seu perfume. a neve parou de cair, o frio deixou de me perturbar. mas o branco no chão continuava a me cegar. percebi que o sol aparecia, se refletia, e que as estações mudavam. vi folhas secas no chão que, de repente, se tornou castanho, como seus olhos pareceram ser há alguns anos atrás. tentei correr para te olhar de frente, mas era inútil, o futuro é sempre uma incógnita.

quando enfim as flores apareceram, a tristeza tomou conta de mim, pois a cena que se formava em nosso caminhar representava meu fim. vi o túmulo vazio. as margaridas dos arredores não ousavam chegar até ele. não só eu perecia ali. o sol se apagava aos poucos. seu véu antes branco já estava sujo de terra e grama. quando enfim foi o fim, você me olhou de frente, do lado oposto a minha cova, e sorriu. a trajetória da minha vida me levou até você, eu te aceitei mas não pude retribuir o sorriso. então tudo escureceu. do meu puro inicio só restaram as lembranças, meus passos me corromperam e o tempo foi responsável pela minha decadência.

em minha lápide nada será escrito. escolhi caminhar junto ao destino. os que eu tinha, me deixaram. os que nunca tive, cá estão. morro cercado de estranhos, assim como estive em vida.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

e é nesse estado que chego até você. com os olhos dormentes negando ver o que haviam enxergado. você não percebe o quanto me magoa com seus atos vazios, suas palavras inexpressivas e essa cara de cão sem dono. é sempre do mesmo jeito, as cenas se repetem num circuito sem fim. sempre chegamos a este momento, no qual eu falo e você se cala frente a culpa que te atormenta e que só diante do meu discurso você é capaz de perceber. será sempre tão dificil entender o óbvio? pois é assim que você justifica seus erros a cada fuga. tua culpa me persegue, meu erro não me deixa em paz, minhas pernas tremem e na tentativa de me manter estável vou de joelhos ao chão. desço um pouco a cada perdão. limito meus atos a cada instante em que vou contra minhas crenças. você me faz assim. me escuta, pois essa talvez seja sua última cartada. essa talvez seja sua última chance. não, não de me ter, pois de mim você nunca mais receberá nada. não terá perdão, essas são suas últimas palavras. o sentimento que existia criou vergonha e se escondeu junto às lembranças que um dia me fizeram tão mal. tudo enterrado frente ao túmulo que você mesmo cavou. me livrei de você. mas escuta bem, pois essa é a última chance que você tem de me ouvir e desaparecer como o homem que eu pensei conhecer. se levanta, me olha nos olhos, vire-se e saia. esqueça que esse apartamento existe, que aqui o amor foi vivido, sonhos realizados e um futuro planejado. não procure vestígios em nosso passado, não me procure em seu decorrer, decadente. e a cada vez que errar, lembre-se que sua chance foi descartada. que o homem morre agora e em você só sobra a piedade de uma vida a viver. boa sorte.

(dor)mente

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

there's nothing left inside to rearrange

nossas línguas são diferentes, não nos encaixamos. você fala e suas palavras parecem simplesmente não fazer sentido em minha cabeça. eu me forço a te escutar e nada daquilo pode ser entendido. eu olho para a tv em busca de alguma compreensão, as legendas somem diante dos meus olhos. palavras não formam frases e você continua movimentando a boca. abro os livros em busca de explicações, as letras se embaralham, perco meu rumo e minha direção. minha memória parece se dissolver. nomes e números se apagam e na tentativa de guardá-los me volto ao passado, às minhas memórias mais significativas. lembro repetidamente delas para que nao sejam esquecida em segundos. o desespero toma conta de mim, eu choro compulsivamente e você continua lá, falando. eu só quero poder construir meu hoje, sem que ele se perca amanhã.

domingo, 2 de agosto de 2009

want to feel your touch

eu preciso mudar. mudar de mim. mudar de pele. minhas decisões são insatisfatórias. como tomá-las de maneira diferente? se aproxime, quero saber de você, quero te sentir, sem que isso seja errado. sem que minha cabeça me mande parar. sem que eu ache tudo perca de tempo. pare de funcionar, me deixe em paz. venha e me faça querer enquanto eu ignoro suas palavras. aja, faca o inevitável, o impensável, me domine. faça a cabeça parar, silencie a mente e aja.