quarta-feira, 28 de outubro de 2009

wristcutters

Eu lembro de estar muito ocupada para te perceber naquela noite. Meu amor, nós nunca fomos juntos ao chão. Eu já cai e te vi caindo, nos suportamos juntos. E só quando te observei daqui de cima pude sentir as palavras chegando.

Os olhos marejavam a cada passo seu, quanto menor a distância se tornava, mais rápido as lembranças percorriam minha mente. Tenha certeza do que você ouvirá e não aja com descaso, pois eu nunca minto. O rádio toca, eu não durmo, e sinto que há familiaridade entre nossos gestos.

A cabeça roda, ouço você respirar. Cada vez mais firme, cada vez mais firme. A gaita toca ao fundo enquanto teu cheiro chega antes de suas mãos me tocarem. É sua vez de agir. Desisto das palavras, dos gestos e da minha mente. Me faça esquecer do agora relembrando o que já se foi.

"To die by your side
Such a heavenly way to die"

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

a desordem

Só me diga quando,

e lá eu estarei. O que for preciso, do modo como for necessário. Te encontrarei quando o sol aparecer e suas mãos vagarem em minha procura. Ouvirei seu suspiro em meio ao caos e na janela em que você me espera te verei acenando após longos dias e noites sem te ter. Todas minhas lembranças então serão novamente realizadas, o estoque se acaba a cada minuto que passo fora de seu abraço e tudo que me conforta é o calor do pensamento. E quando sei que você faz o mesmo e me espera e me quer e me vê, mesmo longe, logo perto, me acalmo com a certeza de ...

Nunca me diga nunca.

Me pinte como sua rainha e na batalha que você trava todos os dias me tenha como recompensa. Serei o prêmio de suas vitórias, sua guia nas horas em que você pensar em desistir. E não diga que nunca seremos o que fomos antigamente. Não me deixe saber que você pensa do mesmo modo como eu, pois só assim perco as esperanças. Caia comigo, novamente, e se coloque em pé e me faça assim. Me veja de baixo e tenha a impressão de que tudo esta bem. Cubra seus olhos e os meus e nos faça acreditar no futuro. Não me deixe ir.



segunda-feira, 28 de setembro de 2009

achados e perdidos

Dos teus cabelos claros queria o mesmo brilho no olhar
O olhar cor de fogo que brilhava em seu peito e se apagou, se tornou azul
O mesmo azul do céu que ousei tocar e me perdi
Que me perdi tentando te achar

Encontrei a porta fechada e as cores me confundiam
Em qual entrar, aonde sairia?
Só as flores me remetiam a você
Mas sempre preferiu se esconder na escuridão

Roubou a estrela que agora habita seu peito
Minha luz caída do céu
Levou a contigo por uma vida
Sem que eu a reclamasse, sabendo que eu a perdia

No fim, me deu a mão
Me colocou em seu pedestal
Me trouxe a estrela, o brilho, o azul e o fogo de volta
Mas nada mais servia, só o tempo me tinha

...era tarde.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009


eu quis ter você
te contar o meu engano
quanto te amei errando o amor
daqueles dias e dos momentos
que juntos fizemos valer a pena
o passar das horas e minutos
e as noites transformamos
em sonhos sempre
acordados
euevocê

08/05/08

domingo, 20 de setembro de 2009

mimeu

Caminho nas horas em busca do momento que perdi em algum lugar do meu passado. Aquele pedaço de mim mesma que costumava ser leve e tranqüilo, todo o tempo. Que se importava com tudo e mesmo assim arranjava tempo para sorrir, o tempo todo. Que não precisava ser acalmada pela voz interior dizendo que está tudo bem. Procuro a solidão perfeita, aquela que eu costumava compartilhar comigo mesma naquele mundo só meu em que me enterrava. O casúlo se rompeu e em certo momento me perdi no mundo real. Posso voltar?

A preocupação é menor, ouço sensatez na minha cabeça, receio o que já foi e isso me faz forte. E em meio à confusão, me ouço dizendo algo óbvio, mas que eu relutei tanto tempo a me escutar. Compreendo a situação e abro minha mente para sonhar. Que a ficção não vire realidade, deixe-me vivê-la longe daqui.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

notas

caminho a passos largos enquanto a música toca e faz da rua um deserto. o foco dos meus olhos eram seus e junto a você e a nossa realidade minha visão também se embaçou. o silêncio do vazio toma meu espírito, enquanto a música parece ecoar em meu peito e iluminar o que ainda há de vida aqui fora. a luz reflete e dá cor e tom aos fantasmas.

o vale se estende a minha frente e nos próximos minutos os pensamentos irão se perder enquanto a mente arranja argumentos para me dissuadir. daquilo que penso, que acho, que lembro, que se foi e será, que teria sido e não foi. minha visão escurece um pouco mais. não há mais reflexos.

o som palpitante segue o ritmo da música. logo mais a seleção se acalma, o corpo relaxa e o toque será diferente. rumo ao fim, enxergo o verde lá em baixo. do caos que vim, não há retorno.

o som me abate.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

através

Você terá o que pede, serei sua rainha coroada entre lençóis e travesseiros. Serei tua sereia entre mares e reinos submersos, a alma que ultrapassa as décadas e o fantasma que te acompanhará. Serei a fada dos teus sonhos e a besta em pesadelos. Navegarei ao seu lado por tormentas e atravessarei fronteiras munida da força que você me dá. Cruzarei desertos em tua busca, e travando lutas armadas te encontrarei clamando pela minha presença. Enquanto a cruz reluz em seu peito, minha imagem se posiciona em sua mente.

No vagão do trem você me observará caminhar e lá já saberá: o restante foi traçado, só me resta o início. Entre épocas vamos nos encontrar. Seja no campo entre flores, no palco ao som da música ou atravessando a avenida num farol aberto, nossos olhos vão se chamar e o tempo predirá os segundos que faltarão para o beijo.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

conto de natal

enquanto os flocos de neve caiam, eu sentia o frio tocar minha pele. estava mais gelado que o habitual, como se o ar tivesse parado por alguns segundos se preparando para receber a rajada de vento a seguir. nesse momento você apareceu branca e pálida diante de mim. seus longos cabelos loiros e a boca vermelha estarreciam meus olhos. e então percebi que caminhava na sua direção, sem controle sobre minhas ações, sua proximidade me assustava. mas você fugia, andava na minha frente como se me guiasse por um caminho que eu teria obrigatoriamente de percorrer. naquele momento entendi que você era meu destino.

caminhei sobre seus passos, seguindo sua visão e seu perfume. a neve parou de cair, o frio deixou de me perturbar. mas o branco no chão continuava a me cegar. percebi que o sol aparecia, se refletia, e que as estações mudavam. vi folhas secas no chão que, de repente, se tornou castanho, como seus olhos pareceram ser há alguns anos atrás. tentei correr para te olhar de frente, mas era inútil, o futuro é sempre uma incógnita.

quando enfim as flores apareceram, a tristeza tomou conta de mim, pois a cena que se formava em nosso caminhar representava meu fim. vi o túmulo vazio. as margaridas dos arredores não ousavam chegar até ele. não só eu perecia ali. o sol se apagava aos poucos. seu véu antes branco já estava sujo de terra e grama. quando enfim foi o fim, você me olhou de frente, do lado oposto a minha cova, e sorriu. a trajetória da minha vida me levou até você, eu te aceitei mas não pude retribuir o sorriso. então tudo escureceu. do meu puro inicio só restaram as lembranças, meus passos me corromperam e o tempo foi responsável pela minha decadência.

em minha lápide nada será escrito. escolhi caminhar junto ao destino. os que eu tinha, me deixaram. os que nunca tive, cá estão. morro cercado de estranhos, assim como estive em vida.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

e é nesse estado que chego até você. com os olhos dormentes negando ver o que haviam enxergado. você não percebe o quanto me magoa com seus atos vazios, suas palavras inexpressivas e essa cara de cão sem dono. é sempre do mesmo jeito, as cenas se repetem num circuito sem fim. sempre chegamos a este momento, no qual eu falo e você se cala frente a culpa que te atormenta e que só diante do meu discurso você é capaz de perceber. será sempre tão dificil entender o óbvio? pois é assim que você justifica seus erros a cada fuga. tua culpa me persegue, meu erro não me deixa em paz, minhas pernas tremem e na tentativa de me manter estável vou de joelhos ao chão. desço um pouco a cada perdão. limito meus atos a cada instante em que vou contra minhas crenças. você me faz assim. me escuta, pois essa talvez seja sua última cartada. essa talvez seja sua última chance. não, não de me ter, pois de mim você nunca mais receberá nada. não terá perdão, essas são suas últimas palavras. o sentimento que existia criou vergonha e se escondeu junto às lembranças que um dia me fizeram tão mal. tudo enterrado frente ao túmulo que você mesmo cavou. me livrei de você. mas escuta bem, pois essa é a última chance que você tem de me ouvir e desaparecer como o homem que eu pensei conhecer. se levanta, me olha nos olhos, vire-se e saia. esqueça que esse apartamento existe, que aqui o amor foi vivido, sonhos realizados e um futuro planejado. não procure vestígios em nosso passado, não me procure em seu decorrer, decadente. e a cada vez que errar, lembre-se que sua chance foi descartada. que o homem morre agora e em você só sobra a piedade de uma vida a viver. boa sorte.

(dor)mente

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

there's nothing left inside to rearrange

nossas línguas são diferentes, não nos encaixamos. você fala e suas palavras parecem simplesmente não fazer sentido em minha cabeça. eu me forço a te escutar e nada daquilo pode ser entendido. eu olho para a tv em busca de alguma compreensão, as legendas somem diante dos meus olhos. palavras não formam frases e você continua movimentando a boca. abro os livros em busca de explicações, as letras se embaralham, perco meu rumo e minha direção. minha memória parece se dissolver. nomes e números se apagam e na tentativa de guardá-los me volto ao passado, às minhas memórias mais significativas. lembro repetidamente delas para que nao sejam esquecida em segundos. o desespero toma conta de mim, eu choro compulsivamente e você continua lá, falando. eu só quero poder construir meu hoje, sem que ele se perca amanhã.

domingo, 2 de agosto de 2009

want to feel your touch

eu preciso mudar. mudar de mim. mudar de pele. minhas decisões são insatisfatórias. como tomá-las de maneira diferente? se aproxime, quero saber de você, quero te sentir, sem que isso seja errado. sem que minha cabeça me mande parar. sem que eu ache tudo perca de tempo. pare de funcionar, me deixe em paz. venha e me faça querer enquanto eu ignoro suas palavras. aja, faca o inevitável, o impensável, me domine. faça a cabeça parar, silencie a mente e aja.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

directions I could understand

não me deixe aqui passando o tempo com minha mente. sem meus parâmetros me perco. gostaria de saber por onde começar, como desenroscar os pensamentos e dúvidas que afogam minha capacidade de raciocinar. o quão estúpida fui ao pensar que tudo se resolveria com o meu silêncio e você seria capaz de me fazer melhor, estúpido. gastei minhas forças e tempo na tentativa de te fazer entender. querendo que a falta de palavras e as lágrimas em meu rosto consertassem algo ou ao menos te fizessem entender que nem tudo está perfeito. que o seu bom é o meu nada. que o que tenho não me é suficiente. e meu provedor, você, esta faltando com suas obrigações, desqualificado, inoperante, ignorante, estúpido. mas, não sei onde começar. não me deixe aqui, não tenho a quem perguntar.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

this ain't no singing in the rain

você corre e se esconde, mas preste atenção, ninguém irá te ver quando a ajuda for necessária, quando sua juventude te abandonar. você poderá gritar aos quatro ventos, nem anjos nem demônios te ouvirão. você precisará cair para que seja capaz de levantar sozinho. e todos deixarão que isso aconteça. todos estão cheios de você e do seu típico modo de resolver os problemas. aliás, do seu suicídio não ousarão falar. sobre a sua incapacidade nem todos vão discutir. a sua ignorância muitos irão dizer não conhecer. só quem te vê de perto sabe o quão frágil você pode ser. ninguém aqui parece te conhecer. você não achará amigos e correrá para mim quando seu fim estiver chegando e eu decretar que assim será. vagarosamente você morre em meu braços e sorrindo eu te vejo afundar. nos meus braços.

this memory will fade away and die

por quantas vezes conseguirei fazer o caminho de ida e volta e carregar o peso pela sua falta de atitude? você me vê andando e continua se negando a acreditar que tudo seja culpa do hoje e eu nego te dizer adeus. por quantas vezes terei que evitar olhar em seus olhos enquanto você não for embora? você nem ao menos tentou entrar em minha mente, entender meus sinais, minhas atitudes, me entender. e agora eu conto as vezes que poderia ter só te observado partir, sem interferir. só agora posso te olhar nos olhos, feliz com a sua partida.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

for what it’s worth

quis te contar que não sou de vidro, que a proteção abusiva limitava meu sentimento, que qualquer ação sua a meu favor me desagradava. pois eu não quebro.

tentei te avisar para não podar minhas asas, para não danificar minha rotina, para não prejudicar meu livre viver. pois não sou domável.

busquei respostas no seu olhar, palavras no seu silêncio e sonhos em nossa realidade, mas nada pude achar. pois as vezes preciso de obviedade para crer.

ouvi suas músicas, li seus livros, mergulhei em suas experiências pensando que te conheceria melhor. sua exatidão e discursos bem formulados me assustaram, me senti pequena. pois eu ainda tenho muito a aprender (e a parte que te basta, não me completa).

vi pessoas passarem, passos serem dados e decisões terminarem desfeitas. vi minha certeza abalada pela falta de coragem. vi minhas expectativas desmoronarem frente à incerteza. a instabilidade me tirou da rota e pensar na continuidade faz minha razão ir contra sentimentos.

me observei refletida frente ao metrô em movimento, horas com e sem cabeça. a imagem interna de encontro ao vidro. há dias que os pensamentos me dão trégua, em outros a guerra me perturba, fere a lucidez e me deixa a vagar entre achismos.

o fim nunca me pertenceu. a lógica se desfaz ao longo do que seria um texto. se houve sentido, hoje só restam palavras não pronunciadas. tudo novamente preso entre medo e insegurança. esperando o momento em que a inspiração deixará de ser fato para se tornar imaginação.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

love and communication

Chegou de mansinho, com sua voz rouca e as mãos a procura de desejo. O rosto tranparecia aquela mesmo sorriso que por tantas vezes tinha pertencido a mim e que eu, em uma tarde chuvosa e triste, fiz desaparecer. Agora lá estava ele, o sorriso, me mostrando que apesar do tempo a cumplicidade ainda existia e, por mais que se tentasse evitar, ele dava seu jeito, escapava pelos cantos, entreaberto, até quase me engolir com sua felicidade aparente, transprente. Sempre transparente, ria quando queria, chorava quando podia.

hunter

E naquela noite você me fez perceber que não era quem eu queria. As vozes ao redor me confundiam e dispersavam os pensamentos. Eu me perdia em outras palavras e adiava a frase que tanto mal me faria. E o sofrimento me acompanhava, não aquele que eu sentia, pois esse eu chamava de desespero, mas aquele que estava por vir, por fim. O que esperei de você não me foi o certo. Me confundi entre sentimentos e te pedi o que não queria ter. Tive o que não gostaria de experimentar. Ficou a lembrança que não poderia ter existido. Em meio a tormenta, seu hálito doce em minha boca me desarmava e quando as palavras estavam prestes a serem ditas, você apoiava suas mãos em minha cintura e tudo o que eu conseguia fazer era fechar os olhos e imaginar o depois. Não aquele momento em que diria que não te amava, mas sim suas mãos deslizando pelo meu corpo enquanto eu transpirava de prazer.

Te admirava a distância enquanto bebia o último gole. Meu próximo passo nos guiaria ao fim. Os olhares denunciavam o desejo, há controvérsia nas atitudes que nos uniam. Naquele instante o arrependimento pelo ainda não feito me rondava. A cena de nossas mãos unidas parecia mais atraente que a cama solitária. E mais uma vez eu não resistia a sua aproximação, seus toques gelados em minha nuca que arrepiavam minha alma, o modo como seu corpo enconstava ao meu e deixava só a vontade da aproximação maior e a sua barba próxima ao meu rosto enquanto você sussurrava algo inaúdivel em meu ouvido.

O depois podia esperar, era você quem eu queria agora.


If you were a king up there on your throne
Would you be wise enough to let me go?
For this queen you think you own

sexta-feira, 5 de junho de 2009

fuga

the long and winding road
that leads to your door
will never disappear
i’ve seen that road before
it always leads me her
lead me to you door


O caminho a percorrer seria longo e após os primeiros passos toda a cascata de lembranças se despejou sobre mim. Era tão difícil não pensar em tudo o que havia passado, e minha obsessão nostálgica sempre ofereceu risco à momentânea estabilidade. Eu na sabia qual seria meu rumo, as alternativas eram tantas. Andaria, no inicio, sem direção, deixando que as ações, gestos e palavras me guiassem. Separaria as vozes boas daquelas que não ousaria tentar entender, a ruína era uma opção que eu preferia descartar.

Perdida em meio a incertezas e divagações, me sentia frágil, sabendo que fora culpada de todos os erros que me fizeram chegar ali. Muitos me alertaram sobre os riscos, eu mesma adiei o abandono por inúmeras vezes antes de me sentir segura o bastante, só não contava com a verdade que cedo ou tarde soprariam nos meus ouvidos. Sinto que caminhei sobre mentiras que me satisfaziam, tracei o rumo do modo que achei apropriado. No entanto, em determinado ponto da trajetória, o caminho se distorceu e me apresentaram a realidade que evitei encarar.


O caminho da estrada que me guiava à sua porta foi desfeito. E a fresta, que ali existia, se fechou por completo.



Inspiração: http://donttouchmymoleskine.wordpress.com/2009/05/10/fuga/

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Eu só queria que você entendesse que a farsa às vezes me cai bem. Que toda mentira contada três vezes, vira realidade. Que o melhor jeito de enganar a todos é me enganando. E que um dia, a mentira irá se diluir nos meus pensamentos, como se nunca tivesse existido, e eu passarei a acreditar que todo o fingimento é real.

Pois já te disse outras vezes, que não sou poeta e meu poder de fingir é ínfimo, mas continuo tentando te enganar, me enganar. Por tempos te esqueço, só para que sua lembrança ressurja ainda mais forte e volte a me atormentar. A incompreensão impede que o sentimento se dissolva. E entre dúvidas e questionamentos, me perco. Novamente, mais uma vez e outra.

Novamente, mais uma vez e outra.
Novamente e mais uma vez.
Outra.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

[susi: insert] errata

e que não me venham falar da dor e de sua beleza, pois só assim a vê quem não sente. enquanto glorificada, desgraça a vida alheia, que teme em sentir a paixão resumida na palavra. não há significado para três letras que te tiram a paz. mais triste é aceitar que o resultado da fórmula para evitá-la, a única maneira de não sucumbir a dor, seria a esperança esquecida entre o sofrimento. no entanto, minha fé se faz fraca e talvez o que me mantenha sã seja somente a revolta contra o amor.

24/03/2008

silêncio

Não se chateie com a minha falta de tato,
Os sentimentos ainda insistem em se manter delimitados pelas linhas do meu corpo.

Não encontre indiferença onde há insegurança,
Me fere saber que a ausência de palavras representem sentimentos vazios para você.


03/02/2009

terça-feira, 5 de maio de 2009

[susi] that's what this is about

Para de agir como se soubesse de tudo, como se a simplicidade da situação fosse uma escolha, como se a possibilidade do fim imperfeito tivesse sido cogitada. Porque às vezes eu tenho motivos estúpidos e você não pode me fazer crer que eles estão corretos. Eu perco a cabeça, perco o rumo, me perco. Ignoro o ponto de partida e digo o além.

Talvez nós estejamos sendo idiotas. Essa charada eterna precisa acabar. Os pontos e vírgulas precisam achar seu espaço nas frases soltas que colocamos entre nós. O silêncio encontrou seu caminho até aqui, mas ainda podemos ouvir as memórias. Esqueça que eu fiz parte de sua trajetória e construa sua vida longe de mim. Pois saiba que a cada beijo, você deixa seu nome em meus lábios. E que seu gosto e suas letras só terão fim quando jurarmos que assim será.

Eu estava em meu caminho até você aparecer e atormentar minha vida com a felicidade dos tais momentos inesquecíveis. Te disse que nunca esqueceria, só não pensei que a lembrança seria tão amarga. Então, garoto, não atrapalhe ainda mais as coisas. Acabe com tudo e tome seu rumo. Não me leve junto para o poço onde você se joga. Eu não saberei o modo certo de te dizer obrigado, de te dizer adeus, mas carregue o som do meu silêncio como chave de sua liberdade. Me retiro do seu caminho, me retire de seu caminho. Me esquece, por favor.

E se falei uma ou duas coisas desnecessárias, foi só porque não tinha o que dizer. Confesso os contornos, os gritos e discussões desconexas que você por tantas vezes me culpou. Confesso ter traído a conversa para fazer com que você perdesse o foco. Nunca tive coragem para despedidas. Nunca tive coragem de te perder.

Você sabe que vou tentar fazer tudo certo dessa vez. Eu aceitarei as conseqüências da escolha. Da sua, da minha, da nossa discordante escolha. Simplesmente porque eu te amo, e não posso mais suportar isso.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Pour ne plus rien savoir

Eu não sei o que você quer, eu não entendo o que você espera de mim. Não agüento mais ser vilã dessa história. E a cada discussão me perder e acabar pedindo desculpas por algo que nem sabia estar fazendo errado. Não julgue meus sentimentos. Não encontre indiferença onde há insegurança. Eu não faço monólogos. Só espero respostas e confidências em troca de minhas palavras.

Enquanto as lágrimas escorrem, palavras transbordam e perco o controle da sensatez. Estavam presas a tanto tempo, pobrezinhas, me corroendo por dentro proibidas de se manifestar. O que antes era claro e certo, se tornava digno de piedade. E com os sentimentos abalados, infiltrados pela sujeira das palavras, resolveu-se falar. Simplesmente falar.

era o fim do sentir.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Grey Gardens

Abriu os olhos e lembrou do terrível pesadelo que tivera durante a noite. O corpo doía, os pensamentos a perturbavam e a sensação de desespero já havia a dominado. Nas últimas manhãs, o desespero sempre a tomava, com ou sem pesadelos. Freqüentemente enrolava na cama quando o despertador tocava, esperando a tranqüilidade acordá-la, mas dessa vez pulou ao primeiro toque e, ao pisar no chão frio com os pés descalços, percebeu sua visão fora de foco e a escuridão tomando o lugar da cena.

Piscou, parou.
Tudo voltou ao normal.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

criação é destruição

Ela pensava no sentido da vida, em como todas as emoções e reações eram abstratas, em como o tempo tratava de esclarecer os pensamento e desanuviar a mente. Seguir em linha reta sempre pareceu um erro e sem notar ela trilhava esse rumo. O empurrão a levou ao chão, o passageiro passou sem pedir desculpas e dar explicações e ela precisou procurar algo para se apoiar. Com as mãos no vidro, via a vida fluir pela janela. Às vezes a perspectiva era melancólica, os tons cinzas tomavam as imagens e ela enxergava a tristeza inerente em cada uma das fotos em sua mente, talvez um reflexo dos seus sentimentos. Por outras vezes, as cores invadiam as cenas, cada sorriso a alegrava: alguns ainda persistiam na felicidade.

Preferiu não se sentar, continuou caminhando pelo vão entre os bancos: o vazio entre vidas. Era como se sentia, perdida entre assentos ocupados, espaços estranhos e figuras desconhecidas. Prendia-se à memória, às lembranças de dias partidos e horas perdidas. O presente era nutrido pelo passado, transformado em mera invenção da realidade. O que se foi ontem, será sentido e ressentido de modo diferente hoje. Lembrança nenhuma é exata.

Se tudo no mundo se degenera, serei degenerada.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Filha de peixe

Stella se levantou pela manhã e logo viu os cabelos loiros e o rosto pintado que a encarava do outro lado do quarto. O quadro original de Andy Warhol fora um presente de seu pai e tinha servido de inspiração para sua última coleção, que refletia a seriedade e a melancolia pouco aparente de Marylin Monroe através de tonalidades neutras, o cinza e o preto. Era dia 9 de março, e enquanto Stella via o trem passar pela janela, ensaiou alguns passos do iê-iê-iê e se preparou para uma Hard Day's Night: o lançamento de inverno.

Concurso Cultural Marie Rucki
Miniconto relacionando um estilista, um artista contemporâneo e um filme em até 80 palavras ou 500 caracteres.


Selecionada! Dia 14: O cinema como parte integrante do sistema da moda. ^^

domingo, 8 de março de 2009

Renaissance

Resolvi cumprir minha palavra e deixei seu quarto. Ele ainda dormia enquanto eu me vestia, mas seus olhos me perseguiram durante os passos finais. As flores continuaram sobre a cama, mas eu carreguei seu gosto e toques em meu corpo.

Assim que embarquei no trem, ainda perdida quanto ao rumo de minha vida, ouvi o toque do celular:

- você sempre soube fazer saídas triunfais.
- mas continuo preferindo as entradas, são mais alegres.
- te devolvo seu sorriso, se quiser.
- você sabe o que tem a fazer, não quero atrapalhar.
- te encontrarei no final.

Sabia que no final nossos passos se encarregariam de cruzar os caminhos. Mas os sentimentos me traíram antes disso, e me vi perdida em Amsterdã graças as nossas palavras. Não haviam Mostardas, mas as tulipas continuavam me encantando. Entre rostos desconhecidos, só lembrei dele.

Kattengat 1, Amsterdam, 1012 SZ – Netherlands. Não demore, mon amour.

O quarto do hotel pedia sua presença, assim como minha mente suspirava seu nome atordoando meus pensamentos. A música, o banho, e o vento fresco que vinha da direção de Koepelkerk. Lá em baixo vi seu carro se aproximar e, assim que desceu, nossos olhares se cruzaram. Ele viera. A visão foi saciada, mas minhas mãos buscavam o abraço de alguns metros. A espera aumentou a tensão e as batidas incertas do coração. Em segundos estava em seus braços, respirava seu ar e descansava a cabeça com pedidos atendidos em seu peito.

- isso não deveria estar acontecendo.
- já desperdiçamos palavras demais.

O beijo. As mãos. Os toques. Os suspiros e gemidos. Continuava me sentindo protegida ao seu lado e, naquela noite, a insônia abandonou meus sonhos. Sua voz descrevia a viagem dos dias passados enquanto as mãos traçavam rotas em meu corpo, caminhos que iam da cabeça aos pés, cruzando fronteiras e buscando horizontes.

- porque você veio?
- você me salvou da última vez, quis retribuir o presente.
- eu nunca planejei te salvar, você sempre foi minha última opção.
- última e única.
- primeira.

Por mais que tentasse esconder, minha presença me denunciava. Ele sempre soube que fugi de quem tentava me fazer feliz. Os outros eram capazes de me entreter, mas eu nunca me contentei com simpatia e sorrisos falsos. Com ele, abandonava meu bom-senso e, se pudesse, não o deixaria. Mas os momentos juntos passam rápido e a partida me leva o boa noite. A minha boa noite.

- para onde vai agora?
- estou pensando em Praga, ou Budapeste. - Fique, e talvez eu fique também. Um sussurro.
- igrejas? santos? religião?
- ciganos. Verei minha sorte e meu destino em cartas.
- dos teus futuros caminhos ninguém nunca saberá, mas tua sorte eu te mostro – Me beijou, como só ele sabe. Odeio sua presunção, adoro seu beijo.

Antes de partir, sinto suas mãos me guiarem até a sacada. Amsterdã não brilha tanto quanto Paris, mas todas as estrelas estão devidamente em seus lugares. Pude enxergá-las, inclusive, em seus olhos, quando envolveu minha cintura e sussurrou em meu ouvido:

- eu fico. Por você, eu fico.

Eu sabia que em alguns dias ele partiria, mas, nesses poucos segundos, ele me fez feliz. E não desejei fugir. Dançamos a noite inteira.


12/03/2008