sexta-feira, 28 de março de 2008

a waltz

Eu prometi não te machucar, te tratar com carinho. Te levar biscoitos na cama e acariciar seus cabelos. Prometi um relacionamento baseado em confidências e cumplicidade, e, quando chegasse a hora de não mais te amar, avisaria previamente. Eu facilitaria a partida e reduziria as dores de um coração partido pela informação repentina. Mas, me desculpe, não foi possível.

Deixei passar o momento em que o amor morreu, e continuei em vão a tentar trazê-lo de volta. O calor da amizade manteve quente nossos corpos, eu dormia, acordava, abraçava e beijava minha melhor amiga. E cheguei ao ponto de querer te contar sobre quando reencontrei o amor em outra pessoa.

Em meus pensamentos você era protagonista. O fazer-te bem era necessidade maior. E foi sem querer que fugi aos meus princípios. E só enxerguei o erro cometido ao perceber suas lágrimas de encontro ao meu peito.

Me desculpe, minha querida. Já não te amo mais. E, por covardia, contrario todas as minhas verdades e deixo aqui minhas declarações, junto ao meu carinho e seus biscoitos.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Adeus

Foi assim mesmo que eu te pedi pra agir: que me fizesse de idiota e acabasse com minha vida enquanto fingia me idolatrar e ser o cara perfeito. Era tanta clareza, as palavras ‘me fode’ pareciam pular da minha boca enquanto meus olhos diziam que eu te amava. Óbvio, na sua porra de cabeça. E foi o que você fez, juntou meia dúzia de vagabundas para te fazerem companhia quando eu colocava minha vida em ordem e ajeitava o nosso futuro. Aquele mesmo futuro que planejávamos juntos entre confidências na cama, enquanto o tempo parecia congelar lá fora e tudo girava em torno de nossas fantasias. A casa azul de janelas brancas, o sofá creme com almofadas coloridas e o tapete daquela loja que a gente foi perguntar o preço fingindo ser um casal nas vésperas do casamento. Teve aquela vez também em que contamos nossa lua-de-mel para o taxista, que acreditou em tudo que dissemos e desejou muitos anos de felicidade ao jovem casal. E então você me aparece dizendo que se cansou? Que o amor acabou? Pois eu acho bom mesmo que você tenha me apagado da sua vida, ocupe-a com suas putas. E nunca, digo nunca, se esqueça do que me fez passar, da vergonha que me fez sentir vendo-os aqui em nosso quarto. Pois eu te apago do meu passado, esqueço do meu presente e repenso meu futuro, nesse segundo para o resto da minha vida, e saiba que eu pensava não ser capaz, mas você tornou a situação muito menos dolorosa. Obrigada.

segunda-feira, 17 de março de 2008

She played games but she took em too far

Ele te conheceu contando piadas enquanto você esperava por sua amiga na rotatória perto de casa. Chegou te perguntando se não chamava Bruna, já sabendo a resposta. Não existia nenhuma Bruna e você, logicamente, disse seu nome. Objetivo alcançado. E então ele começou a conversar e a te agradar e você ficou com aquela cara de boba de quem gosta do que está sendo dito. E ele te fez sorrir por várias vezes, convencido do poder que exercia sobre você. Todas os outros encontros foram assim, por acaso. E ele comentou sobre o potinho de lantejoulas que tinha perdido, e isso não soou gay, e sobre como ele deveria colocar um rastreador no potinho, já que nunca o encontrava quando precisava. Você continuou sorrindo, pela história, por ele, pelo seu sorriso que a fazia querer sorrir. O tempo passou, outros atropelaram a história que talvez aconteceria, mas em um dos encontros ele disse que viajaria. Seria um ano fora. É, tchau.

Mas ele voltou, e lá estava você, ainda sozinha. Alguns atravessaram sua vida, nenhum parou. Foi meio sem querer que se reviram no meio da rua, os olhares se cruzaram e ele parou a bicicleta para te acompanhar até em casa. E você lembrou de como gostava do jeito que ele falava e tocava sua cintura ao te abraçar. Já era tarde demais, ele estava ocupando o topo da lista, você já tinha desperdiçado tempo demais evitando lutar ao invés de tornar-se a escolhida.

E foi naquela festa que as ilusões acabaram e a realidade tomou forma, mas o coração se partiu pela primeira vez. Ele estava com outra e, ao te ver, arrependeu-se da cena. Quis conversar e te explicar que não sabia da sua presença, mas você recusou o beijo. O beijo! Ele quis um beijo. Recusado, sim, mas desejado. Ele também te queria.

Mais algumas semanas, mais uma festa. E lá estava ele, esperando por você, sem arriscar o inconscientemente planejado no intervalo de dias. As conversas, os mesmos sorrisos, o beijo. O beijo! Suas pernas tremeram e você precisou se apoiar na janela às suas costas para não perder o equilíbrio. Ele te segurou e prometeu não te deixar cair, nunca.

Bela mentira em que você acreditou. O nunca acabaria em algum tempo. E o eterno de Morais não durou como você insistiu em acreditar. Os dias juntos foram infinitos, mas o fim te trouxe a amargura do indesejado. E enquanto lutava, lembrou-se porque preferia ser escolhida a escolher, dessa maneira podia mandar e desmandar. Não havia amor, mas era você a causadora de tristezas, nunca a abandonada.

Nunca.

Você já tinha feito tantos te esquecerem, agora era sua vez de experimentar o lado contrário dos jogos de azar.

quarta-feira, 12 de março de 2008

inverno

A chuva os obrigou a continuar o caminho a pé. Mais alguns quilômetros e estariam perto. O destino havia conspirado contra o desenrolar dos fatos: o passado era percorrido na estrada de terra batida do interior. Ele a levaria de volta para casa na beira do lago onde estava passando as férias e que, por infeliz coincidência, tinham se encontrado. No entanto, finalmente estava tudo acertado, o amor simplesmente desapareceu, foi a desculpa que ela usou. E os olhos baixaram tentando esconder as palavras que deixou de dizer.

- porque não me escreveu? você deixou cinco anos se passarem, fez minhas esperanças abandonarem o espaço ocupado com seu nome e de repente reaparece sem ao menos se desculpar pelo acontecido? sabia que eu te acompanharia no rumo já traçado, sabia que meu coração já caminhava junto ao seu antes dos sonhos desmoronarem. nosso amor não estava fadado a acontecer, mas sua desistência foi covarde. temeu pelos problemas existentes e a dúvida quanto as soluções te fez partir. Meu coração. me deixou à sombra de um amor insubstituível, a escuridão tomou minha luz e a entreguei a sensatez. por um tempo pensei em desistir, em fugir, como você. Com você. não, tira suas mão de mim, deixe as lágrimas rolarem e saiba que não são por você, mas sim por raiva do sentimento bobo que reluta em deixar meu peito, que me impede de fechar os olhos enquanto minha mente é invadida por suas imagens a atordoar-me. vá embora, me deixa, suma daqui, suma novamente. e não volte a aparecer na minha vida e lembrar-me do quanto feliz eu posso ser quando meu coração se aquece. quando você aparece. quando você se aproxima. quando você, só você.

Impedida como estava de falar, desejou que ele a beijasse. Quis que ele arrastasse sua mão e a puxasse para si. Não importava onde a beijasse. Na boca, no pescoço, na face. Sua pele estava vazia para o beijo, esperando.
a menina que roubava livros, Markus Zusak

sexta-feira, 7 de março de 2008

tédio

Aceitou que o destino a controlasse e guiasse os passos do caminho já traçado. Não conseguia enxergar o fim da estrada de tijolos amarelos, mas sempre soube quem encontraria durante o percurso. Certamente era ele quem pegaria na sua mão e seguiria ao seu lado. Não precisavam de muitas palavras, os olhares cúmplices se cruzavam quando algo precisava ser dito, e tudo era entendido. Os sorrisos se completavam e, quando o vento parava e os olhares se fixavam em busca de explicações, os corpos se aproximavam, a respiração acelerava e o coração perdia a batida da trilha ao fundo, e com um beijo selavam mais um passo. Nunca as pedras do caminho foram tão comemoradas.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Me diz que não somos assim, que nosso amor não foi envenenado por suas palavras e que você não acreditou nas suposições quanto a inexistência do sentimento que eu vivo por. Olha pra mim e continua enxergando todo carinho que tenho por você, e acredita quando digo que te amo, mas que se ousar fazer o que está pensando nunca mais me terá nem me verá. Pois eu saberei que sua influência é maior e que, apesar dos beijos e olhares compartilhados, são as suas palavras que importam. E sabe, eu não suportaria saber que minha voz perde-se em vão e que meus atos, ao seu ver, são mera atuação. Você me machuca e me acaba, me faz sentir o queimar das mentiras em que acredita no meu peito e eu enfraqueço diante da sua imparcialidade. Tome meu lado. Aja, levante dessa cadeira e me olhe nos olhos, me faça acreditar que vale a pena continuar desgastando meu orgulho na tentativa de te fazer entender as minhas verdades. Te digo, são simples. Eu te amo. E se você não pode acreditar nisso, então talvez seja melhor que vá. Vá. Não ouse me dizer uma palavra, você teve sua chance e a rebateu com olhares vazios em que um dia acreditei estar presente. Já não te vejo em foco, saia de cena. Que o ódio se abrigue no lugar onde antes esteve a dor. Pois saiba que, do amor, há muito não tenho notícias, e que a saudades não baterá à porta. Leve tudo que é seu, inclusive meu coração, pois de vocês, me livro agora.


Dor