quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

do outro lado

Ele acordou com sua imagem na cabeça. O modo como ela se vestia e o jeito como andava, com o vestido flutuando de um lado para o outro enquanto seus pés traçavam o caminho direto ao seu encontro. Seus olhar semi-fechado, daquela maneira que só ela conseguia piscar e envolvê-lo na magia da cena.

Já fazia algumas semanas que não a via, e tinha decidido que assim seria, coube a ela respeitar sua decisão. O amor foi o causador de brigas e infelicidade, o tempo encarregou-se de livrá-lo das boas lembranças, o arder da saudades já o fizera sofrer demais.

Suas roupas e espírito impregnavam-se com o perfume, seu cheiro adocicado o deixava louco. Foi assim a primeira vez que a sentiu, a visão foi póstuma, mas já caíra apaixonado. O desejo o guiou pela sinuosa trilha que teria a percorrer, desfez sentimentos criados e a impediu de continuar a busca pelo que supunha inacabado. Pois, em sua cabeça, ele ainda a pertencia.

Enquanto ela aguardava lá dentro, ele foi atender a porta, a campainha tocara:

oi, o que tá fazendo aqui? calma, não chora. não, não começa, eu não quero ouvir. você já me disse tudo e prometemos calar as palavras e escondê-las debaixo do tapete. será melhor para os dois, pois é preciso que supere o término e encontre seu início seguinte. você não tem me dado o tempo que pedi e faz dos meu silêncio sua sentença de morte, quando tudo o que quero é te ver sair desse abismo de solidão em que se jogou. não chore. me xinga, grita comigo, mas não me faça sentir culpado pelo amor abandonado solitário em seu peito. pois sabe que de você só quero o bem, o teu bem, meu bem. me abraça, e se encontra nos meus braços, mas saiba que nosso bater já não é o mesmo e que meus ouvidos já não escutam a denúncia do coração. te amo, minha amiga.

Com um beijo despediu-se, sem olhar as lágrimas que lhe molhavam os lábios. Ainda sentia-se atordoado pela cena inesperada e por desmentir o amor verdadeiro de alguém. Mas ao fechar a porta reconheceu o rosto que aguardava no interior. E voltou a ouvir o som das batidas e a sentir os arrepios na pele e o atordoar da mente. Seu amor foi renovado e, antes mesmo da saudades chegar, já havia encontrado sua substituta.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

dúvidas

eu começo, e ela sempre continua, parecendo a sabida, toda mais velha!

- é utópica a falta de espera! por mais desencanados, sempre esperamos algo!
- completamente utópica. mas a espera é sufocante, a falta dela é a mesma coisa que deixa o caminho iluminado mesmo quando tá escuro. na verdade, o que ilumina é um monte de coisas juntas, que formam aquele sentimento besta que você falou e deixa tudo mais simples.
- você tá inspirada com isso de iluminação do amor, hein.
- hahahaha. nada, eu nunca tinha pensado nisso, daí me falaram e acho que to pensando ainda.
- ainda e ainda! mas é, se a preocupação do depois não fodesse tudo, seria lindo!
- é só não deixar o depois foder tudo. tem um jeito das coisas darem certo. do jeito que me faz lembrar de tudo com carinho, mesmo do que doeu e depois virou piada. ah, eu acho que é preciso viver, porque se não você fica sempre pensando no depois que foderia tudo. mas, quem garante que foderia?
- ninguém garante, mas o pensar já fode. e eu não consigo me deixar levar, eu sempre me fodo pensando!
- hahaha. você tem um medo que não deveria ser seu, garota. mas, eu entendo, eu entendo. eu fui assim até que percebi: me matava muito mais com possibilidades do que com fatos consumados; porque depois que o medo vai, tudo fica mais fácil de lidar. nada é tão complicado, a gente complica tudo pra não viver. é mais fácil não viver, mesmo que mate mais.

ela, sempre garota. as conversas virarão livros. =*

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

semelhanças

A perfeição do início foi esquecida pelos fatos que atordoavam e machucavam seu presente. Na memória, o passeio pelas ruas com os sorrisos de alegria pelo momento compartilhado a troco de nada, que se encerraria ao anoitecer com o beijo cúmplice debaixo d’árvore e o bater de asas no estômago. Ele a ensinou a assistir desenhos, de scooby doo a sailor moon, e ela o fez cortar o cabelo e usar camiseta listrada. A amizade infantil e irresponsável virou amor, e logo eram inseparáveis. A falta de idade criou a dependência, conforme cresciam suas vidas misturavam-se e as lembranças eram impregnadas de momentos juntos, a ponto de esquecerem quando eram um ou outro.

Quão grande foi o choque quando anunciou-se a paixão repentina por outra pessoa. O cair de prantos foi a primeira opção, seguida da raiva e da incapacidade e da tristeza. E enfim nesse ponto, de amargura e decepção, compreendeu que só queria vê-la bem. Que todo o amor desesperançado não bastava para odiá-la e criticar a escolha de ter alguém diferente do eu mesmo que ele tinha se tornado. A semelhança destruiu os sentimentos no momento em que o um repetiu-se, e já não fazia mais sentido tentar surpreende-la com o mesmo amor.

Os bilhetes espalhados pelo quarto reacendiam as cinzas da lembrança. A ele restavam os cigarros, mas lembrou-se da vez em que ela escreveu seu nome em cada um deles, dizendo que a machucava vê-lo perder-se em fumaça. Estava em meio à névoa sem sua companhia e os olhos embaçados desfocavam a mente que insistia em procurá-la. Ouvia a música que aprendeu a tocar por sua causa, ela dizia ser sua preferida, acordes e vozes não lhe saiam dos ouvidos. O fone dividido, as idéias e opiniões compartilhadas, tudo fazia parte do roteiro de sua vida, e sem suas mãos para guiá-lo vagava pelas ruas procurando explicações em muros pichados.

No entanto, o peito foi sendo preenchido pela saudades dos momentos bons. E aos poucos a revolta contra o destino de sua vida transformou-se em esperança pelos dias vindouros. Voltou a conviver com os amigos, que sempre fizeram parte da geometria de sua vida, e conseguiu reencontrar a sensatez que havia perdido desde a fuga de sua racionalidade. O tempo se fez presente afastando a tristeza de sua vida e, quando menos esperava, se viu olhando para a garota loira da sala ao lado.

- Oi.


Sonhos - Peninha

Tudo era apenas
Uma brincadeira
E foi crescendo
Crescendo, me absorvendo
E de repente eu me vi assim
Completamente seu...

Vi a minha força
Amarrada no seu passo
Vi que sem você não tem caminho
Eu não me acho
Vi um grande amor
Gritar dentro de mim
Como eu sonhei um dia...

Quando o meu mundo
Era mais mundo
E todo mundo admitia
Uma mudança muito estranha
Mais pureza, mais carinho
Mais calma, mais alegria
No meu jeito de me dar...
Quando a canção
Se fez mais forteE mais sentida
Quando a poesia
Fez folia em minha vida
Você veio me contar
Dessa paixão inesperada
Por outra pessoa...

Mas não tem revolta não
Eu só quero que você se encontre
Ter saudade até que é bom
É melhor que caminhar vazio
A esperança é um Dom
Que eu tenho em mim
Eu tenho sim
Não tem desespero não
Você me ensinou
Milhões de coisas
Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

algemas

Ele a pegou pelos braços e exigiu uma resposta, os dias tinham passado e ela o fez esperar por essas palavras. Na dúvida, havia esquecido as semanas, mas nunca a ele, que sempre ocupou seus pensamentos. O tempo não era para decidir o que dizer, mas para que ele repensasse a verdade em suas palavras, pois ela não correria o risco de equivocar-se por uma segunda vez e entregar sua liberdade nas mãos de alguém que ignorasse sua necessidade de assim ser: livre. Mas essa simples preocupação atrelada à pressão fez com que repensasse suas vontades. Se a resposta era tão duramente cobrada, talvez seu conteúdo tivesse que ser modificado. Entre as exigências contava-se a livre-vontade, de decepcionar e fazer apaixonar. Continuava não suportando ter seu amor cobrado, pois o possuidor não teria dúvidas, e se tinha não era para sê-lo.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

suspiros sustenidos

Ela sempre preferiu o quarto aos outros cômodos, não era nenhuma maníaca, mas nunca houve nada mais prazeroso que sua respiração ao adormecer.

A cena se repetia durante as noites, cansados, deitavam-se, e as conversas cúmplices sobre o decorrer do dia era feitas em volume baixo. As últimas palavras pareciam sussurros, daqueles gostosos de se ouvir, e a faziam estremecer quando a distância era mínima. A cama era um lugar sagrado, onde se declaravam em silêncio e suspiravam o amor. Imaginado, sentido, feito. Os suspiros davam o tom.

Os cabelos se perdiam entre os travesseiros e nos beijos falados ouvia que era amada. Os lençóis enroscavam e na pele se faziam sentir sentimentos guardados durante o dia no peito. Ao final restava a voz respirada em seu ouvido na forma de sussurros: a melodia que arrepiava sua nuca e a fazia adormecer.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

peaches

Algumas certas pessoas conseguem nos deixar feliz com poucas palavras, porque elas tem a capacidade de escolher as frases que gostaríamos de ouvir. É o que acontece com você e nunca comigo, pois tua exatidão me deixa muda. Então eu continuo pensando em tudo que poderia ter sido dito, mas o momento passa e o silêncio que se formou deixa a sensação de que meus sentimentos eram vagos. Mentira! Se te enchia de palavras você pode ter certeza que a inexistência de sensações me faziam agir assim, e que você não era ele. Porque só ele me deixa muda enquanto as emoções transbordam no peito me sufocando. E a boca cala diante do medo de estragar o já dito com algum comentário bobo do tipo eu também. Mas você sempre se supera, e desde o início me entende. Diante do choque, muda o foco. Busca em meus olhos as palavras que não saem dos lábios. E sabe que desvendou meu silêncio quando as troco por um beijo.

"Just because I don't say anything
Doesn't mean I don't like you.
I open my mouth and I try and i try
But no words come out."

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

não sambo mais em vão

Foi durante a música dos outros e a dança dos meus que te vi. Passou desapercebido e reto com aquele sorriso de invejar quem observa e encantar a mim. Sumiu na multidão e me deixou procurando novos rostos que fizessem os olhos brilhar. Com as amigas eu comentei, discutimos os encontros, desencontros e dúvidas quanto aos amores fixos e passageiros. Aqueles que passam em dias, esses que passam por segundo. E então você voltou.

Entre as direções erradas o cruzamento foi inevitável. Apesar dos momentos passados, me pegou de surpresa, era você novamente. Ainda rodeada, não quis se aproximar, mas o medo cedeu aos olhares e com sorrisos e mãos me tirou para dançar. A tal dança que não sabíamos e que nos deu mais motivo para decifrar vozes, entender contornos e realçar a cumplicidade. No início você me encantou pelas expressões e depois arrematou com as frases e palavras encaixadas às minhas expectativas. Os braços e abraços e toques.

A música continuava a tocar, mas, na minha dança, eu só te ouvia.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

geek

Fazia sol e ela tinha ido ao parque. A leitura estava quase no fim, e queria terminá-la como a personagem, com a cabeça livre dos problemas já resolvidos. Não seria tão simples, pois seus problemas só a deixavam em paz entre a primeira e a última página. Foi ali sentada que, de repente, despretensiosamente, o conheceu, num tropeço.

- Oi, desculpa, tô com pressa... você sabe onde fica a rua Mário Antônio? Não? Me disseram que era por aqui. Aliás, bela camiseta. O que tá escrito? Sweetzerland? Bacana. A praça Marquesa é por aqui? Me disseram que era perto. Minha vó era polonesa, falava algo de alemão. Não, só sei o básico. É, Scheisse e Huresohn. Palavrões? Sério? Desculpa. Que horas são? Acho que tô perdido. Esqueci de oferecer, coca? Dia bonito. Posso sentar? Era, uma entrevista. Designer. De internet, sim. Que rua é aquela? Mas você não é daqui? Presumi, ninguém vem de muito longe para ler no parque. O que é? Eu gosto de Johannes Vermeer. Um romance, sério? A Holanda deve ser fabulosa. Prefiro lírios ... É, vou tentar me encontrar. Um prazer, tchau.


- Oi. Sim, voltei. Sei lá, eu não queria ir embora. Seu sorriso me faz bem.

Ela ainda não sabia, mas seu livro terminaria com os mesmos problemas. No entanto, um final feliz a aguardava.





happy valentine's day, meus amores.
=*

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

impressões

Você mexe com minha cabeça e quando penso que a situação se estabilizou, que os sentimentos atingiram um nível menos intenso e o corpo deixou de controlar as vontades, você reaparece e me atordoa o espírito. Então eu coloco todas as certezas em risco e em espera, sabendo que quando você desaparecer novamente só me restará a incompreensão e o telefone mudo.

A insistente presença dele já não é mais confortante e me deixa imaginando que, caso ele sumisse, talvez eu teria coragem de te levar adiante. Mas trato de dissipar as idéias da cabeça, pois sei que as suposições não se tornariam reais, meu medo continua atropelando a espontaneidade.

Encontro outros vários, na tentativa de te fazer menos importante. Converso com um, tão livre de todos os medos que você me causaria. Dou risadas com dois, sempre me surpreendendo com as palavras e lembranças. Penso no três, que, apesar de tão distante quanto você, me ilumina o olhar.

E paro perdida, entre café e estranhos, com a felicidade do que há por fora e a confusão que não cala a mente. Deixo os problemas suspensos e continuo a decorar a superfície com adjetivos.

"...brinquei com a paixão, brinquei com a ternura, brinquei com a ruptura, brinquei com a tristeza. Fiz o máximo na expressão da tristeza, como antes fizera o máximo na aparência da sedução. Às vezes me parece que nada fiz senão dar a aparência das idéias. Mas é de fato a única saída que nos cabe num mundo especulativo sem saída: produzir os signos mais satisfatórios de uma idéia...."
Baudrillard

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

confete e serpentina

Tudo começou com as unhas pintadas, a correria para arrumas as malas, o jantar discutido e enfim finalizado. Depois vieram as alegrias. O primeiro dia de sol e a parceria na beira da piscina, os mergulhos, as histórias, os cigarros, o almoço. Presença confirmada, desembarque na rodoviária, time completo. A noite chegou com as marchinhas de carnaval, pulos e danças, a indignação da presença masculina e as escapadas estratégicas, lucrativas, diga-se de passagem. Teve a, b, c e piracicaba, entre outros. Sentada na guia e fazendo companhia à amiga. O vestido a la monroe foi detalhe, mas o culpado não foi o vento. Discussões sobre a retirada e o cansaço. Conversas no portão e o término do que se iniciaria no dia seguinte

Outra manhã de sol, a aspirina salvou a dor de cabeça. O calor evitado, mergulhos e brincadeiras na piscina. Jogos de carta entre presidentes. Pizzas e maquiagem, a hora havia chegado, era novamente carnaval. Tudo planejado, paradas e voltas femininas, ela não quis, ficou com eles e fez certa falta. Vódega pra geral, e não esquece do extra. Oi, você ai. Tchau, carnaval é da mulherada, sinto muito beibe. De volta, deixa ele pro final. Cansaço repentino, outro portão, ele. A música sertaneja no carro, a madrugada insistindo em acabar. Mil discussões na beira da piscina, uma salva, a outra jogada sem culpa.

O novo dia, da beleza, unhas, cabelos. O vôlei na piscina à espera da última noite. E a música, as piriguetes, o creu e todos os nomes ridículos inventados para noites de carnavais que nos fazem rir e dançar. Mais voltas e sarjetas. Visagistas, bichas e menores de idade, reunidos em muitos ou uma só pessoa. Risadas confidentes, comentários e olhares cúmplices. Fofocas no banheiro da madrugada lavando os pés, ou inventado de colocar meia para não sujar os lençóis. A cabeça dói.

Último dia, da balada ao descanso. O cochilo a tarde e a dúvida de uma quarta noitada, que não aconteceu, pois o carnaval já acabara. E o que restou foram algumas horas de sono, um futuro dia de trabalho e o sorriso da semana.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

"você é dificil, porque tem que ser controlada, sem tirarem sua liberdade. você tem que se sentir livre, ou sentir tanto que a liberdade nao importe mais."

ela =*

E é o fim

E por que a falta de perfeição? Eu pedi que você viesse com os defeitos certos, daqueles que eu tolero e ainda acho bacana. Mas não foi o que aconteceu e agora me vejo perdida como sempre, lutando para não me envolver e desiludindo minhas vontades de te ver. Seria mais fácil se não tivesse havido nada, mais fácil e tedioso. Eu ajudei a fazer acontecer e agora meu pé não larga o passo atrás, se posiciona sempre esperando eu estragar tudo novamente.

Foi você, você e você, e ontem pensava o porquê de eu não ter seguido em frente, deixado tudo acontecer naturalmente. Essa vontade louca de não me ver presa a ninguém me fode.

Que pelo menos seja a alguém sem esses defeitos que fazem minha cabeça pesar. Você poderia decidir tudo por mim. Talvez seja isso: alguém que decida por mim, que não me deixe escapar ao primeiro sinal de desencantamento. Use e abuse do seu poder sobre mim.

Quem sabe.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

versões

assim:

Há um tempo tudo parece mudado. Sua pele já não me toca, e, quando isso ocorre, os arrepios e borboletas parecem vir somente das lembranças do início. Ficou tudo retido no plano de minha imaginação: o encontro, as palavras trocadas, o primeiro beijo, a paixão, a vida à dois. Hoje, ouso dizer que não é mais o protagonista dos sonhos. A realidade se fez presente na ilusão e na figura, pois você sempre existiu, o que não, fomos nós.

e assim:

há algum tempo
nada aconteceu
mas foi como

a pele perdeu o toque
e dos arrepios e borboletas
só há lembrança

a imaginação se encarregou
de fazer valer o sonhado
mas já não é você

ao meu lado, ainda

de realidade planejada
só as ilusões eram verdade

existiu um você
mas nunca nós