domingo, 10 de agosto de 2008

waiting



Leia páginas da minha vida e se encontre ali
Você, quem amei
Quem me fez feliz
Você, quem me adorou
Me arruinou

Rasge os papéis
Me repudie
Sinta o ódio que eu não senti

E então me mostra que nem tudo é assim
Do desgosto algo pode surgir
E que o teu ódio, ao menos
Seja resposta pra mim


*img stellaimhuntelberg

segunda-feira, 28 de julho de 2008

perdão

E então ele apareceu, entrou pela porta sem anunciar e a encontrou de costas, em pé ao lado da mesa, observando a correspondência do dia. Sabia que a noite anterior tinha sido um erro, e que desculpas não adiantariam. Indo direto ao seu encontro a abraçou, sentia o perfume de seu cabelo, o mesmo perfume que por tantas vezes o acalmou enquanto dormia. Os braços a envolviam sem deixar que ela se movimentasse. Depois de alguns segundos, desceu os lábios até seu pescoço, e quando a tocou, sentiu a pele gelada e os arrepios que percorriam o corpo dela. Caberia a ela afastá-lo ou levar seus atos às ultimas conseqüências. Virou a de encontro para si e, antes que as bocas se encontrassem, colocou as mãos por debaixo de sua blusa enquanto fixava os olhos nos dela. Sentiu sua pele, envolveu sua cintura, tocou seu colo desnudo e percorreu o restante do corpo com as mãos, pousando-as em seu quadril. Percebeu o quanto sentia-se atraído pelo seu toque aveludado e o perfume impregnado no suor. Puxou a para mais perto e os lábios se encontraram, o calor do beijo se fez sentir nas unhas que arranharam suas costas, eram as mãos delas que agiam agora. Talvez o perdão tivesse sido aceito, talvez fosse só o início de seu castigo.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

ps.

O som da música a fazia sorrir, atravessando a rua ousava fechar os olhos e saltar pelas calçadas. Quem a via, pensava estar assistindo à gravação de um comercial. O colorido de suas roupas sempre chamou atenção dos atentos e desatentos, as cores de sua alma sempre atraiu aqueles que sabiam valorizar a alegria tão explicita.

Cantando e dançando ela vivia. Fazia da vida um espetáculo, ao qual paravam para observar e admirar.

Sempre soube seduzir desprentesiosamente seu público.
Sempre soube seduzir.

Eu, seu público.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Do 1º ao 2º

- Oi.
- Hey, opa, como você tá? Tá melhor?
- É, tô melhor sim. Viu, obrigada por ontem, nem tive tempo de agradecer.
- Agradeceu, acho que sim, afinal um beijo é um bom agradecimento, lembra?
- Agradeci? Não! Foi você quem me beijou.
- Achei que tivesse sido ao contrário, ou você quisesse. Não pareceu só um agradecimento. Enfim, você me beijou.
- Como assim? Tem certeza? Me desculpa.
- Não precisa se desculpar. Eu gostei.
- Gostou?
- Gostei. Eu sentia que havia algo diferente entre nós dois.
- Eu também. Sabe, não queria que fosse naquela situação, mas... é que eu gosto de você, me sinto bem com você.
- Mas você me deixava em dúvida. Tantas reações indecifráveis. Verdade, é?
- Juro, é sério!
- Talvez eu esperasse pelo beijo. Certamente eu o queria tanto quanto você.
- Ué, mas porque não me disse antes?
- Porque viver dizendo tudo?
- Porque não tomou uma atitude?
- Coragem. Falta dela. Ou medo. Ou qualquer coisa que viria junto com a coragem.
- Pfff, coragem? Não vem com essa, todos usam a mesma desculpa.
- Porque essa cara? Não gostou da realidade?
- Claro, fiquei decepcionada.
- Espera, vamos consertar e lembrar depois?
- Como assim consertar?


Complementando o texto original. Diálogo montado em parceria com ela.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

ilusões

As vezes a gente finge que tudo é verdade, que tudo é mentira. Brinca de deslizar pelas curvas, criar contornos, destraçar retas. A gente foge da seriedade e entre risadas e sorrisos nos encontramos, nos escondemos. As meias respostas, as palavras retidas, tão bem escolhidas. Os momentos que ficam na mente, em sonhos, e aquele outros que esquecemos para só lembrar quando nos for permitido.

E durante a noite a gente se esquece. As dúvidas, a indecisão, a fraqueza, a tristeza. Só volto a te enxergar na manhã seguinte, quando meus olhos alcançam os seus, quando seu sorriso me faz sorrir, quando a realidade ainda parece sonho, quando o sonho se torna real. O dia recomeça e tudo desaparece, assim só vejo o que quero ver.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

epílogo reeditado: farsa

Porque depois que você se foi, só restou o frio. Que adentrou o corpo e cristalizou o coração. Como pedra, já não mais sentia. Só o êxtase que você me causou foi capaz de reavivar o batimento. Então, tudo se tornou mais claro. Não foi simples aceitar o fato de que não deveríamos ser, um. Passei noites mal dormidas pensando em você. Em todas as vezes que te encontraria na cama, naquele momento único de olhos nos olhos. Eu relembraria e reviveria cada toque seu, como se pudesse sentir o mesmo prazer que já me trouxeram um dia. A irrealidade nunca foi tão verdadeira. O inexistente nunca mexeu tanto comigo.

Quando a claridade chegasse, seria, novamente, só eu. Do mesmo modo de sempre, com os sonhos ousando me desacreditar. Você não apareceria, e eu voltaria a crer que a vida era só isso. Eu preferia desse jeito, pois já não sabia como te olhar, como te encarar e não lembrar da minha mentira, dos seus toques, não me lembrar de tudo o que tínhamos vivido, e que agora nada mais existia, nunca existiu. Eu me fazia iludir e me decepcionava quando percebia que o sonhar era falso. Eu me enganava vivendo o que nunca aconteceria e, ainda assim, me decepcionava com o não-acontecer.

domingo, 18 de maio de 2008

fingidor

(A fez entender que cumplicidade pode vir além da amizade, que atenção e carinho podem não dar nojo e que contato demasiado as vezes se faz necessário.

Seu corpo pedia os toques e lábios. O abraço a preenchia e os olhos fechavam instintivamente, buscando sentir melhor. O planejar das horas se tornava incoerente e os minutos corriam e competiam com a vontade de reaver o tédio ao seu lado.

No entanto...

... deixou cicatrizes no caminho que fugiu da retiliniedade, desfez certezas, abalou a confiança. Enganou-se pensando que a confusão lhe pertencia: ela compartilhou do mesmo mal. Os estilhaços incomodaram e, a ela, que não é poeta, nem sabe fingir, só restou a dor.)

quarta-feira, 7 de maio de 2008

p&b

No céu vi o reflexo da dor que me atordoava o peito. O dia amanheceu nublado, com nuvens cinzas e previsão de chuva. A mesma escuridão que havia dominado minha noite ao te ver sair. A mesma água que se fez cair, quando as primeiras lágrimas chegaram aos meus olhos.

Passei a manhã remoendo as lembranças anteriores. A briga, os gritos, o amor, a partida. Só então percebi a tristeza do anoitecer sem você, da cama sem seus toques, dos suspiros sem sua voz. A tarde me enganou, pensei ter vivido um dia noturno.

Hoje o sol se escondeu de mim. Você levou a luz junto com minha sanidade. Rodeada pela noite, esperei-a chegar. Como se ao abrir a porta do apartamento apagado, pudesse enxergar o brilho do seu olhar. E tudo voltasse a ser como antes, claro.

segunda-feira, 5 de maio de 2008

não eu.

Meu querido, saiba que as palavras se enroscam em meu pensamento, me engasgam e bloqueiam a mente, que meu silêncio é carapuça, esconderijo dos sentimentos que tanto prezo e recuso entregar.

Saiba que a proteção me enfraquece, mas falta coragem para usar a voz. São frases inteiras, textos prontos, tudo prestes a ser cuspido, pois já não suporto mais o gosto amargo de palavras tão doces. Foi assim que as planejei, doces, e em certo momento elas se perderem em meu calar, se recuaram em minha cabeça, escolhendo atormentar o presente com lembranças de cenas inexistentes.

Aguarde, meu querido. O tempo há de vir, as palavras chegarão. Me livrarei da covardia e te entregarei o que é teu por direito, as farei mais belas que nunca. Meus sentimentos, minhas palavras, minha inspiração, meu você.

ass.: ela,

quinta-feira, 17 de abril de 2008

hold me

e ela fez do dia noite e estendeu a madrugada até às 9h. acordou ainda cansada, os sonhos lhe haviam tirado a paz do sono, e ainda cansada abriu os olhos. o braço lentamente o envolveu, e ao seu toque ele se revirou, parou com os olhos fixados aos dela e assim, cansado, um meio sorriso surgiu.

os lençóis eram cúmplices do anoitecer, do passar dos minutos entre beijos e vozes. as falas entrecortadas por gemidos enquanto os pés se enlaçam procurando a proximidade das bocas.

o sol apareceu trazendo as obrigações do dia, que deixariam de ocupar os pensamentos ao procurar refúgio na memória. e então o passar seria mais alegre. e o tempo se arrastaria pelas curvas dos toques que se permitia relembrar enquanto não pudesse estar novamente em seus braços.

terça-feira, 15 de abril de 2008

entrementes

e ao som da sua música meu corpo estremece, como se você sussurrasse no meu ouvido, suspirando em meu pescoço enquanto escuto sua voz invadir minha cabeça, tomar o lugar dos pensamentos antes importantes, porque agora só você importa, só você faz circular as tarefas em minha mente, e ocupa o segundo plano enquanto se esconde e fica ali de canto observando tudo, você nunca sai de lá, digo, daqui, da minha cabeça.

segunda-feira, 7 de abril de 2008

empty

Por culpa da estupidez de minha mente, te deixei ali esquecido, aguardando o momento exato para reaparecer e assombrar meu presente. Cai no jogo da memória e, quando menos esperava, fui trapaceada com a ilusão do seu desaparecimento momentâneo. Infelizmente sua presença voltou a atormentar meu espírito e o antigo amor foi reacendido pelas fagulhas do ciúmes.

Ver suas mãos em outra cintura e seus lábios de encontro a outra face rompia minha lucidez, a cena parecia focar nos seus gestos e me fazer de telespectadora da cena cruel em que meu peito explodia e levavam meu coração ainda sangrando embora. Do raptor eu desconhecia o nome e a identidade, que já não me eram tão importantes, tendo ele salvo uma vida, minha vida, do sofrimento persistente.

Perdi ali a lucidez, o coração e a dignidade. E por não me ser possível enxergar a vida sem paz e amor, deixei-a ali também. Entregue a quem ousasse desejá-la, pois de mim sentimento algum surgiria: a indiferença tomou meus dias.

sexta-feira, 28 de março de 2008

a waltz

Eu prometi não te machucar, te tratar com carinho. Te levar biscoitos na cama e acariciar seus cabelos. Prometi um relacionamento baseado em confidências e cumplicidade, e, quando chegasse a hora de não mais te amar, avisaria previamente. Eu facilitaria a partida e reduziria as dores de um coração partido pela informação repentina. Mas, me desculpe, não foi possível.

Deixei passar o momento em que o amor morreu, e continuei em vão a tentar trazê-lo de volta. O calor da amizade manteve quente nossos corpos, eu dormia, acordava, abraçava e beijava minha melhor amiga. E cheguei ao ponto de querer te contar sobre quando reencontrei o amor em outra pessoa.

Em meus pensamentos você era protagonista. O fazer-te bem era necessidade maior. E foi sem querer que fugi aos meus princípios. E só enxerguei o erro cometido ao perceber suas lágrimas de encontro ao meu peito.

Me desculpe, minha querida. Já não te amo mais. E, por covardia, contrario todas as minhas verdades e deixo aqui minhas declarações, junto ao meu carinho e seus biscoitos.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Adeus

Foi assim mesmo que eu te pedi pra agir: que me fizesse de idiota e acabasse com minha vida enquanto fingia me idolatrar e ser o cara perfeito. Era tanta clareza, as palavras ‘me fode’ pareciam pular da minha boca enquanto meus olhos diziam que eu te amava. Óbvio, na sua porra de cabeça. E foi o que você fez, juntou meia dúzia de vagabundas para te fazerem companhia quando eu colocava minha vida em ordem e ajeitava o nosso futuro. Aquele mesmo futuro que planejávamos juntos entre confidências na cama, enquanto o tempo parecia congelar lá fora e tudo girava em torno de nossas fantasias. A casa azul de janelas brancas, o sofá creme com almofadas coloridas e o tapete daquela loja que a gente foi perguntar o preço fingindo ser um casal nas vésperas do casamento. Teve aquela vez também em que contamos nossa lua-de-mel para o taxista, que acreditou em tudo que dissemos e desejou muitos anos de felicidade ao jovem casal. E então você me aparece dizendo que se cansou? Que o amor acabou? Pois eu acho bom mesmo que você tenha me apagado da sua vida, ocupe-a com suas putas. E nunca, digo nunca, se esqueça do que me fez passar, da vergonha que me fez sentir vendo-os aqui em nosso quarto. Pois eu te apago do meu passado, esqueço do meu presente e repenso meu futuro, nesse segundo para o resto da minha vida, e saiba que eu pensava não ser capaz, mas você tornou a situação muito menos dolorosa. Obrigada.

segunda-feira, 17 de março de 2008

She played games but she took em too far

Ele te conheceu contando piadas enquanto você esperava por sua amiga na rotatória perto de casa. Chegou te perguntando se não chamava Bruna, já sabendo a resposta. Não existia nenhuma Bruna e você, logicamente, disse seu nome. Objetivo alcançado. E então ele começou a conversar e a te agradar e você ficou com aquela cara de boba de quem gosta do que está sendo dito. E ele te fez sorrir por várias vezes, convencido do poder que exercia sobre você. Todas os outros encontros foram assim, por acaso. E ele comentou sobre o potinho de lantejoulas que tinha perdido, e isso não soou gay, e sobre como ele deveria colocar um rastreador no potinho, já que nunca o encontrava quando precisava. Você continuou sorrindo, pela história, por ele, pelo seu sorriso que a fazia querer sorrir. O tempo passou, outros atropelaram a história que talvez aconteceria, mas em um dos encontros ele disse que viajaria. Seria um ano fora. É, tchau.

Mas ele voltou, e lá estava você, ainda sozinha. Alguns atravessaram sua vida, nenhum parou. Foi meio sem querer que se reviram no meio da rua, os olhares se cruzaram e ele parou a bicicleta para te acompanhar até em casa. E você lembrou de como gostava do jeito que ele falava e tocava sua cintura ao te abraçar. Já era tarde demais, ele estava ocupando o topo da lista, você já tinha desperdiçado tempo demais evitando lutar ao invés de tornar-se a escolhida.

E foi naquela festa que as ilusões acabaram e a realidade tomou forma, mas o coração se partiu pela primeira vez. Ele estava com outra e, ao te ver, arrependeu-se da cena. Quis conversar e te explicar que não sabia da sua presença, mas você recusou o beijo. O beijo! Ele quis um beijo. Recusado, sim, mas desejado. Ele também te queria.

Mais algumas semanas, mais uma festa. E lá estava ele, esperando por você, sem arriscar o inconscientemente planejado no intervalo de dias. As conversas, os mesmos sorrisos, o beijo. O beijo! Suas pernas tremeram e você precisou se apoiar na janela às suas costas para não perder o equilíbrio. Ele te segurou e prometeu não te deixar cair, nunca.

Bela mentira em que você acreditou. O nunca acabaria em algum tempo. E o eterno de Morais não durou como você insistiu em acreditar. Os dias juntos foram infinitos, mas o fim te trouxe a amargura do indesejado. E enquanto lutava, lembrou-se porque preferia ser escolhida a escolher, dessa maneira podia mandar e desmandar. Não havia amor, mas era você a causadora de tristezas, nunca a abandonada.

Nunca.

Você já tinha feito tantos te esquecerem, agora era sua vez de experimentar o lado contrário dos jogos de azar.

quarta-feira, 12 de março de 2008

inverno

A chuva os obrigou a continuar o caminho a pé. Mais alguns quilômetros e estariam perto. O destino havia conspirado contra o desenrolar dos fatos: o passado era percorrido na estrada de terra batida do interior. Ele a levaria de volta para casa na beira do lago onde estava passando as férias e que, por infeliz coincidência, tinham se encontrado. No entanto, finalmente estava tudo acertado, o amor simplesmente desapareceu, foi a desculpa que ela usou. E os olhos baixaram tentando esconder as palavras que deixou de dizer.

- porque não me escreveu? você deixou cinco anos se passarem, fez minhas esperanças abandonarem o espaço ocupado com seu nome e de repente reaparece sem ao menos se desculpar pelo acontecido? sabia que eu te acompanharia no rumo já traçado, sabia que meu coração já caminhava junto ao seu antes dos sonhos desmoronarem. nosso amor não estava fadado a acontecer, mas sua desistência foi covarde. temeu pelos problemas existentes e a dúvida quanto as soluções te fez partir. Meu coração. me deixou à sombra de um amor insubstituível, a escuridão tomou minha luz e a entreguei a sensatez. por um tempo pensei em desistir, em fugir, como você. Com você. não, tira suas mão de mim, deixe as lágrimas rolarem e saiba que não são por você, mas sim por raiva do sentimento bobo que reluta em deixar meu peito, que me impede de fechar os olhos enquanto minha mente é invadida por suas imagens a atordoar-me. vá embora, me deixa, suma daqui, suma novamente. e não volte a aparecer na minha vida e lembrar-me do quanto feliz eu posso ser quando meu coração se aquece. quando você aparece. quando você se aproxima. quando você, só você.

Impedida como estava de falar, desejou que ele a beijasse. Quis que ele arrastasse sua mão e a puxasse para si. Não importava onde a beijasse. Na boca, no pescoço, na face. Sua pele estava vazia para o beijo, esperando.
a menina que roubava livros, Markus Zusak

sexta-feira, 7 de março de 2008

tédio

Aceitou que o destino a controlasse e guiasse os passos do caminho já traçado. Não conseguia enxergar o fim da estrada de tijolos amarelos, mas sempre soube quem encontraria durante o percurso. Certamente era ele quem pegaria na sua mão e seguiria ao seu lado. Não precisavam de muitas palavras, os olhares cúmplices se cruzavam quando algo precisava ser dito, e tudo era entendido. Os sorrisos se completavam e, quando o vento parava e os olhares se fixavam em busca de explicações, os corpos se aproximavam, a respiração acelerava e o coração perdia a batida da trilha ao fundo, e com um beijo selavam mais um passo. Nunca as pedras do caminho foram tão comemoradas.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Me diz que não somos assim, que nosso amor não foi envenenado por suas palavras e que você não acreditou nas suposições quanto a inexistência do sentimento que eu vivo por. Olha pra mim e continua enxergando todo carinho que tenho por você, e acredita quando digo que te amo, mas que se ousar fazer o que está pensando nunca mais me terá nem me verá. Pois eu saberei que sua influência é maior e que, apesar dos beijos e olhares compartilhados, são as suas palavras que importam. E sabe, eu não suportaria saber que minha voz perde-se em vão e que meus atos, ao seu ver, são mera atuação. Você me machuca e me acaba, me faz sentir o queimar das mentiras em que acredita no meu peito e eu enfraqueço diante da sua imparcialidade. Tome meu lado. Aja, levante dessa cadeira e me olhe nos olhos, me faça acreditar que vale a pena continuar desgastando meu orgulho na tentativa de te fazer entender as minhas verdades. Te digo, são simples. Eu te amo. E se você não pode acreditar nisso, então talvez seja melhor que vá. Vá. Não ouse me dizer uma palavra, você teve sua chance e a rebateu com olhares vazios em que um dia acreditei estar presente. Já não te vejo em foco, saia de cena. Que o ódio se abrigue no lugar onde antes esteve a dor. Pois saiba que, do amor, há muito não tenho notícias, e que a saudades não baterá à porta. Leve tudo que é seu, inclusive meu coração, pois de vocês, me livro agora.


Dor

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

do outro lado

Ele acordou com sua imagem na cabeça. O modo como ela se vestia e o jeito como andava, com o vestido flutuando de um lado para o outro enquanto seus pés traçavam o caminho direto ao seu encontro. Seus olhar semi-fechado, daquela maneira que só ela conseguia piscar e envolvê-lo na magia da cena.

Já fazia algumas semanas que não a via, e tinha decidido que assim seria, coube a ela respeitar sua decisão. O amor foi o causador de brigas e infelicidade, o tempo encarregou-se de livrá-lo das boas lembranças, o arder da saudades já o fizera sofrer demais.

Suas roupas e espírito impregnavam-se com o perfume, seu cheiro adocicado o deixava louco. Foi assim a primeira vez que a sentiu, a visão foi póstuma, mas já caíra apaixonado. O desejo o guiou pela sinuosa trilha que teria a percorrer, desfez sentimentos criados e a impediu de continuar a busca pelo que supunha inacabado. Pois, em sua cabeça, ele ainda a pertencia.

Enquanto ela aguardava lá dentro, ele foi atender a porta, a campainha tocara:

oi, o que tá fazendo aqui? calma, não chora. não, não começa, eu não quero ouvir. você já me disse tudo e prometemos calar as palavras e escondê-las debaixo do tapete. será melhor para os dois, pois é preciso que supere o término e encontre seu início seguinte. você não tem me dado o tempo que pedi e faz dos meu silêncio sua sentença de morte, quando tudo o que quero é te ver sair desse abismo de solidão em que se jogou. não chore. me xinga, grita comigo, mas não me faça sentir culpado pelo amor abandonado solitário em seu peito. pois sabe que de você só quero o bem, o teu bem, meu bem. me abraça, e se encontra nos meus braços, mas saiba que nosso bater já não é o mesmo e que meus ouvidos já não escutam a denúncia do coração. te amo, minha amiga.

Com um beijo despediu-se, sem olhar as lágrimas que lhe molhavam os lábios. Ainda sentia-se atordoado pela cena inesperada e por desmentir o amor verdadeiro de alguém. Mas ao fechar a porta reconheceu o rosto que aguardava no interior. E voltou a ouvir o som das batidas e a sentir os arrepios na pele e o atordoar da mente. Seu amor foi renovado e, antes mesmo da saudades chegar, já havia encontrado sua substituta.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

dúvidas

eu começo, e ela sempre continua, parecendo a sabida, toda mais velha!

- é utópica a falta de espera! por mais desencanados, sempre esperamos algo!
- completamente utópica. mas a espera é sufocante, a falta dela é a mesma coisa que deixa o caminho iluminado mesmo quando tá escuro. na verdade, o que ilumina é um monte de coisas juntas, que formam aquele sentimento besta que você falou e deixa tudo mais simples.
- você tá inspirada com isso de iluminação do amor, hein.
- hahahaha. nada, eu nunca tinha pensado nisso, daí me falaram e acho que to pensando ainda.
- ainda e ainda! mas é, se a preocupação do depois não fodesse tudo, seria lindo!
- é só não deixar o depois foder tudo. tem um jeito das coisas darem certo. do jeito que me faz lembrar de tudo com carinho, mesmo do que doeu e depois virou piada. ah, eu acho que é preciso viver, porque se não você fica sempre pensando no depois que foderia tudo. mas, quem garante que foderia?
- ninguém garante, mas o pensar já fode. e eu não consigo me deixar levar, eu sempre me fodo pensando!
- hahaha. você tem um medo que não deveria ser seu, garota. mas, eu entendo, eu entendo. eu fui assim até que percebi: me matava muito mais com possibilidades do que com fatos consumados; porque depois que o medo vai, tudo fica mais fácil de lidar. nada é tão complicado, a gente complica tudo pra não viver. é mais fácil não viver, mesmo que mate mais.

ela, sempre garota. as conversas virarão livros. =*

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

semelhanças

A perfeição do início foi esquecida pelos fatos que atordoavam e machucavam seu presente. Na memória, o passeio pelas ruas com os sorrisos de alegria pelo momento compartilhado a troco de nada, que se encerraria ao anoitecer com o beijo cúmplice debaixo d’árvore e o bater de asas no estômago. Ele a ensinou a assistir desenhos, de scooby doo a sailor moon, e ela o fez cortar o cabelo e usar camiseta listrada. A amizade infantil e irresponsável virou amor, e logo eram inseparáveis. A falta de idade criou a dependência, conforme cresciam suas vidas misturavam-se e as lembranças eram impregnadas de momentos juntos, a ponto de esquecerem quando eram um ou outro.

Quão grande foi o choque quando anunciou-se a paixão repentina por outra pessoa. O cair de prantos foi a primeira opção, seguida da raiva e da incapacidade e da tristeza. E enfim nesse ponto, de amargura e decepção, compreendeu que só queria vê-la bem. Que todo o amor desesperançado não bastava para odiá-la e criticar a escolha de ter alguém diferente do eu mesmo que ele tinha se tornado. A semelhança destruiu os sentimentos no momento em que o um repetiu-se, e já não fazia mais sentido tentar surpreende-la com o mesmo amor.

Os bilhetes espalhados pelo quarto reacendiam as cinzas da lembrança. A ele restavam os cigarros, mas lembrou-se da vez em que ela escreveu seu nome em cada um deles, dizendo que a machucava vê-lo perder-se em fumaça. Estava em meio à névoa sem sua companhia e os olhos embaçados desfocavam a mente que insistia em procurá-la. Ouvia a música que aprendeu a tocar por sua causa, ela dizia ser sua preferida, acordes e vozes não lhe saiam dos ouvidos. O fone dividido, as idéias e opiniões compartilhadas, tudo fazia parte do roteiro de sua vida, e sem suas mãos para guiá-lo vagava pelas ruas procurando explicações em muros pichados.

No entanto, o peito foi sendo preenchido pela saudades dos momentos bons. E aos poucos a revolta contra o destino de sua vida transformou-se em esperança pelos dias vindouros. Voltou a conviver com os amigos, que sempre fizeram parte da geometria de sua vida, e conseguiu reencontrar a sensatez que havia perdido desde a fuga de sua racionalidade. O tempo se fez presente afastando a tristeza de sua vida e, quando menos esperava, se viu olhando para a garota loira da sala ao lado.

- Oi.


Sonhos - Peninha

Tudo era apenas
Uma brincadeira
E foi crescendo
Crescendo, me absorvendo
E de repente eu me vi assim
Completamente seu...

Vi a minha força
Amarrada no seu passo
Vi que sem você não tem caminho
Eu não me acho
Vi um grande amor
Gritar dentro de mim
Como eu sonhei um dia...

Quando o meu mundo
Era mais mundo
E todo mundo admitia
Uma mudança muito estranha
Mais pureza, mais carinho
Mais calma, mais alegria
No meu jeito de me dar...
Quando a canção
Se fez mais forteE mais sentida
Quando a poesia
Fez folia em minha vida
Você veio me contar
Dessa paixão inesperada
Por outra pessoa...

Mas não tem revolta não
Eu só quero que você se encontre
Ter saudade até que é bom
É melhor que caminhar vazio
A esperança é um Dom
Que eu tenho em mim
Eu tenho sim
Não tem desespero não
Você me ensinou
Milhões de coisas
Tenho um sonho em minhas mãos
Amanhã será um novo dia
Certamente eu vou ser mais feliz...

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

algemas

Ele a pegou pelos braços e exigiu uma resposta, os dias tinham passado e ela o fez esperar por essas palavras. Na dúvida, havia esquecido as semanas, mas nunca a ele, que sempre ocupou seus pensamentos. O tempo não era para decidir o que dizer, mas para que ele repensasse a verdade em suas palavras, pois ela não correria o risco de equivocar-se por uma segunda vez e entregar sua liberdade nas mãos de alguém que ignorasse sua necessidade de assim ser: livre. Mas essa simples preocupação atrelada à pressão fez com que repensasse suas vontades. Se a resposta era tão duramente cobrada, talvez seu conteúdo tivesse que ser modificado. Entre as exigências contava-se a livre-vontade, de decepcionar e fazer apaixonar. Continuava não suportando ter seu amor cobrado, pois o possuidor não teria dúvidas, e se tinha não era para sê-lo.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

suspiros sustenidos

Ela sempre preferiu o quarto aos outros cômodos, não era nenhuma maníaca, mas nunca houve nada mais prazeroso que sua respiração ao adormecer.

A cena se repetia durante as noites, cansados, deitavam-se, e as conversas cúmplices sobre o decorrer do dia era feitas em volume baixo. As últimas palavras pareciam sussurros, daqueles gostosos de se ouvir, e a faziam estremecer quando a distância era mínima. A cama era um lugar sagrado, onde se declaravam em silêncio e suspiravam o amor. Imaginado, sentido, feito. Os suspiros davam o tom.

Os cabelos se perdiam entre os travesseiros e nos beijos falados ouvia que era amada. Os lençóis enroscavam e na pele se faziam sentir sentimentos guardados durante o dia no peito. Ao final restava a voz respirada em seu ouvido na forma de sussurros: a melodia que arrepiava sua nuca e a fazia adormecer.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

peaches

Algumas certas pessoas conseguem nos deixar feliz com poucas palavras, porque elas tem a capacidade de escolher as frases que gostaríamos de ouvir. É o que acontece com você e nunca comigo, pois tua exatidão me deixa muda. Então eu continuo pensando em tudo que poderia ter sido dito, mas o momento passa e o silêncio que se formou deixa a sensação de que meus sentimentos eram vagos. Mentira! Se te enchia de palavras você pode ter certeza que a inexistência de sensações me faziam agir assim, e que você não era ele. Porque só ele me deixa muda enquanto as emoções transbordam no peito me sufocando. E a boca cala diante do medo de estragar o já dito com algum comentário bobo do tipo eu também. Mas você sempre se supera, e desde o início me entende. Diante do choque, muda o foco. Busca em meus olhos as palavras que não saem dos lábios. E sabe que desvendou meu silêncio quando as troco por um beijo.

"Just because I don't say anything
Doesn't mean I don't like you.
I open my mouth and I try and i try
But no words come out."

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

não sambo mais em vão

Foi durante a música dos outros e a dança dos meus que te vi. Passou desapercebido e reto com aquele sorriso de invejar quem observa e encantar a mim. Sumiu na multidão e me deixou procurando novos rostos que fizessem os olhos brilhar. Com as amigas eu comentei, discutimos os encontros, desencontros e dúvidas quanto aos amores fixos e passageiros. Aqueles que passam em dias, esses que passam por segundo. E então você voltou.

Entre as direções erradas o cruzamento foi inevitável. Apesar dos momentos passados, me pegou de surpresa, era você novamente. Ainda rodeada, não quis se aproximar, mas o medo cedeu aos olhares e com sorrisos e mãos me tirou para dançar. A tal dança que não sabíamos e que nos deu mais motivo para decifrar vozes, entender contornos e realçar a cumplicidade. No início você me encantou pelas expressões e depois arrematou com as frases e palavras encaixadas às minhas expectativas. Os braços e abraços e toques.

A música continuava a tocar, mas, na minha dança, eu só te ouvia.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

geek

Fazia sol e ela tinha ido ao parque. A leitura estava quase no fim, e queria terminá-la como a personagem, com a cabeça livre dos problemas já resolvidos. Não seria tão simples, pois seus problemas só a deixavam em paz entre a primeira e a última página. Foi ali sentada que, de repente, despretensiosamente, o conheceu, num tropeço.

- Oi, desculpa, tô com pressa... você sabe onde fica a rua Mário Antônio? Não? Me disseram que era por aqui. Aliás, bela camiseta. O que tá escrito? Sweetzerland? Bacana. A praça Marquesa é por aqui? Me disseram que era perto. Minha vó era polonesa, falava algo de alemão. Não, só sei o básico. É, Scheisse e Huresohn. Palavrões? Sério? Desculpa. Que horas são? Acho que tô perdido. Esqueci de oferecer, coca? Dia bonito. Posso sentar? Era, uma entrevista. Designer. De internet, sim. Que rua é aquela? Mas você não é daqui? Presumi, ninguém vem de muito longe para ler no parque. O que é? Eu gosto de Johannes Vermeer. Um romance, sério? A Holanda deve ser fabulosa. Prefiro lírios ... É, vou tentar me encontrar. Um prazer, tchau.


- Oi. Sim, voltei. Sei lá, eu não queria ir embora. Seu sorriso me faz bem.

Ela ainda não sabia, mas seu livro terminaria com os mesmos problemas. No entanto, um final feliz a aguardava.





happy valentine's day, meus amores.
=*

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

impressões

Você mexe com minha cabeça e quando penso que a situação se estabilizou, que os sentimentos atingiram um nível menos intenso e o corpo deixou de controlar as vontades, você reaparece e me atordoa o espírito. Então eu coloco todas as certezas em risco e em espera, sabendo que quando você desaparecer novamente só me restará a incompreensão e o telefone mudo.

A insistente presença dele já não é mais confortante e me deixa imaginando que, caso ele sumisse, talvez eu teria coragem de te levar adiante. Mas trato de dissipar as idéias da cabeça, pois sei que as suposições não se tornariam reais, meu medo continua atropelando a espontaneidade.

Encontro outros vários, na tentativa de te fazer menos importante. Converso com um, tão livre de todos os medos que você me causaria. Dou risadas com dois, sempre me surpreendendo com as palavras e lembranças. Penso no três, que, apesar de tão distante quanto você, me ilumina o olhar.

E paro perdida, entre café e estranhos, com a felicidade do que há por fora e a confusão que não cala a mente. Deixo os problemas suspensos e continuo a decorar a superfície com adjetivos.

"...brinquei com a paixão, brinquei com a ternura, brinquei com a ruptura, brinquei com a tristeza. Fiz o máximo na expressão da tristeza, como antes fizera o máximo na aparência da sedução. Às vezes me parece que nada fiz senão dar a aparência das idéias. Mas é de fato a única saída que nos cabe num mundo especulativo sem saída: produzir os signos mais satisfatórios de uma idéia...."
Baudrillard

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

confete e serpentina

Tudo começou com as unhas pintadas, a correria para arrumas as malas, o jantar discutido e enfim finalizado. Depois vieram as alegrias. O primeiro dia de sol e a parceria na beira da piscina, os mergulhos, as histórias, os cigarros, o almoço. Presença confirmada, desembarque na rodoviária, time completo. A noite chegou com as marchinhas de carnaval, pulos e danças, a indignação da presença masculina e as escapadas estratégicas, lucrativas, diga-se de passagem. Teve a, b, c e piracicaba, entre outros. Sentada na guia e fazendo companhia à amiga. O vestido a la monroe foi detalhe, mas o culpado não foi o vento. Discussões sobre a retirada e o cansaço. Conversas no portão e o término do que se iniciaria no dia seguinte

Outra manhã de sol, a aspirina salvou a dor de cabeça. O calor evitado, mergulhos e brincadeiras na piscina. Jogos de carta entre presidentes. Pizzas e maquiagem, a hora havia chegado, era novamente carnaval. Tudo planejado, paradas e voltas femininas, ela não quis, ficou com eles e fez certa falta. Vódega pra geral, e não esquece do extra. Oi, você ai. Tchau, carnaval é da mulherada, sinto muito beibe. De volta, deixa ele pro final. Cansaço repentino, outro portão, ele. A música sertaneja no carro, a madrugada insistindo em acabar. Mil discussões na beira da piscina, uma salva, a outra jogada sem culpa.

O novo dia, da beleza, unhas, cabelos. O vôlei na piscina à espera da última noite. E a música, as piriguetes, o creu e todos os nomes ridículos inventados para noites de carnavais que nos fazem rir e dançar. Mais voltas e sarjetas. Visagistas, bichas e menores de idade, reunidos em muitos ou uma só pessoa. Risadas confidentes, comentários e olhares cúmplices. Fofocas no banheiro da madrugada lavando os pés, ou inventado de colocar meia para não sujar os lençóis. A cabeça dói.

Último dia, da balada ao descanso. O cochilo a tarde e a dúvida de uma quarta noitada, que não aconteceu, pois o carnaval já acabara. E o que restou foram algumas horas de sono, um futuro dia de trabalho e o sorriso da semana.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

"você é dificil, porque tem que ser controlada, sem tirarem sua liberdade. você tem que se sentir livre, ou sentir tanto que a liberdade nao importe mais."

ela =*

E é o fim

E por que a falta de perfeição? Eu pedi que você viesse com os defeitos certos, daqueles que eu tolero e ainda acho bacana. Mas não foi o que aconteceu e agora me vejo perdida como sempre, lutando para não me envolver e desiludindo minhas vontades de te ver. Seria mais fácil se não tivesse havido nada, mais fácil e tedioso. Eu ajudei a fazer acontecer e agora meu pé não larga o passo atrás, se posiciona sempre esperando eu estragar tudo novamente.

Foi você, você e você, e ontem pensava o porquê de eu não ter seguido em frente, deixado tudo acontecer naturalmente. Essa vontade louca de não me ver presa a ninguém me fode.

Que pelo menos seja a alguém sem esses defeitos que fazem minha cabeça pesar. Você poderia decidir tudo por mim. Talvez seja isso: alguém que decida por mim, que não me deixe escapar ao primeiro sinal de desencantamento. Use e abuse do seu poder sobre mim.

Quem sabe.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

versões

assim:

Há um tempo tudo parece mudado. Sua pele já não me toca, e, quando isso ocorre, os arrepios e borboletas parecem vir somente das lembranças do início. Ficou tudo retido no plano de minha imaginação: o encontro, as palavras trocadas, o primeiro beijo, a paixão, a vida à dois. Hoje, ouso dizer que não é mais o protagonista dos sonhos. A realidade se fez presente na ilusão e na figura, pois você sempre existiu, o que não, fomos nós.

e assim:

há algum tempo
nada aconteceu
mas foi como

a pele perdeu o toque
e dos arrepios e borboletas
só há lembrança

a imaginação se encarregou
de fazer valer o sonhado
mas já não é você

ao meu lado, ainda

de realidade planejada
só as ilusões eram verdade

existiu um você
mas nunca nós

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Cartas na mesa

De uma maneira geral costumo ter fixações rápidas e únicas. Explico: minhas grandes paixões repentinas tem prazo de validade, duram no máximo três meses, são intensas, talvez por isto se esgotem rapidamente, e, quando escolhido o alvo, ele é único, não há espaço para outro corpo, nem mente para dois amores.

A seleção é aleatória. Um sorriso, um olhar, mas na maioria das vezes caio nas garras da inteligência. Não há nada mais charmoso do que conhecimento, ironia e cavalheirismo, atrelados, é claro, a barba mal-feita e estilo.

Alguns não precisam anunciar a presença para serem notados, mas depender da aparência e esnobar a voz é jogo de alto risco. Os menos notáveis costumam ser melhores no quesito “surpreenda-me”, já que não contam com cartas extras.

No entanto, ambos me levam ao tédio rapidamente. Ao tédio ou à loucura, então, como solução para o não-aborrecimento, salto de fixação. Do mesmo modo como um olhar me atrai, o cadarço desamarrado acaba se tornando um defeito essencial para o desenrolar do relacionamento. E, assim, faço da paixão mero passatempo e movimento meu pino para a próxima casa do tabuleiro.

Accidental me

E apesar da total apatia, o sorriso assusta e me pega desprevenida quando te vejo. De repente lá está você, descendo as escadas daquela sua maneira de andar, como se não reparasse sua presença notada. E quando se vai, meus olhos continuam te seguindo, e me fazem levantar a procura de algum outro relance. Te explicaria minhas fraquezas e seguraria sua mão, te chamaria para sentar comigo e tomar o café de amanha. Então você entenderia e ficaria um pouco mais. Talvez meus livros te fizessem olhar, mas a concentração me escapa com você por perto. Eu já estive aqui antes, aqui, ali, nessa posição. Já fui outras vezes, inclusive você. E no seu lugar, não quis conhecê-lo, apesar do livro, dos olhares, do convite.

Talvez seja só um mal-entendido. O lugar e hora errados para pensar em você. E a inexistência de presentes em meu presente te fazem responsável pelo espaço disponível.

inspiração

sabe, eu tenho tanto a te dizer, desse tipo de coisa que a gente deixa lá guardado pra hora apropriada, mas talvez essa hora já tenha passado e eu continuei sem te dizer nada. porque naquele dia eu devia ter dito, seus pé enlaçados aos meus enquanto você dormia eram a prova que eu precisava, pois ao contrário de outros, com você eu me sentia feliz e segura e protegida, mais importante, querendo estar ali. enquanto te esperei abrir os olhos, pensei em todas as frases, ficou tudo perfeito, as palavras, a ordem, todos os meus sentimentos em torno de 1000 caracteres. é, sempre tive essa mania, medir minhas falas, calcular os diálogos, como um jogo besta no qual acumulo pontos resumindo minhas emoções. mas você não acordou, eu adormeci, olhando seus olhos ainda fechados. quando acordei você não estava mais ali, seu bilhete me explicava a partida antecipada, a ligação dela. ela me preocupa, ela coloca em risco minha segurança, minha paz, teu amor. e você foge de mim por ela. tenho medo da importância que perco perto de sua presença, a dela, como a ligação de vocês parece mais estruturada que a nossa, e que, justamente por isso, te prefiro, mas talvez você não pense assim.

deixaria de lado toda essa indignação quanto aos relacionamentos estruturados, jogaria fora minhas convicções sagitarianas. que se foda minha liberdade, pegue-a. porque sei que faria bom uso dela, te pago com doses de espontaneidade, e meu troco seria a segurança de ter só pra mim.

The Collection


E você continua aqui.

Naquele dia não pude me segurar. Tinha tanto a dizer e minha garganta ardia por tentar segurar lágrimas que insistiam em cair. Meus defeitos e vícios cuspidos em minha cara, algo que não pensei que você faria. Por todo esse tempo nunca imaginei que tais pensamentos ocupassem sua cabeça, e, assim de repente, descubro cicatrizes profundas que causei e que, por não conhecer, nunca respeitei. Foi como um tapa na cara saber o quão rápido você pôde listar todos os meus erros. E eu não tinha escolha, além de te ouvir.

Agora ouça, eu posso ser a pessoa mais pessimista, e a mais adorável, ao seu lado. E ainda que você me veja por inteira, cave meus sentimentos e me envergonhe, eu peço, continue aqui. Você viu cada parte, viu minha luz, agora ame minha escuridão. E continue aqui.

Por favor, seja capaz de me tirar dos saltos altos. Seja o idiota que eu sempre suportei, e amei. Você foi meu amigo, meu melhor amigo, sempre teve seus benefícios. E quando te via, te vejo, e sempre, eu perco o fôlego. Sabe, talvez eu não consiga ser boa sem você.

Eu tento argumentar o seu amor na triste convicção de que eu já o experimentei antes. Isso talvez nunca aconteceu (acho incrível a maneira como eu saboto minhas fantasias de reconciliação). Mas, então, porque você continua aqui?

Você me vê, desse modo em que não há amnésia seletiva, e que eu acreditava não existir, antes que você começasse a falar esta noite. Minha memória é simples, eu sempre esqueci o que preferia não lembrar.

Mesmo arrasada e perdida, seu sorriso me dá esperança de que talvez tudo possa ficar bem. É que eu só percebi agora, me desculpe. Se nos apaixonarmos novamente tudo seria resolvido. O amor sempre foi analgésico para a rotina, tome a pílula. E continue aqui.

Não se surpreenda se eu te amo pelo o que você é, sempre foi desse jeito. E ao invés de listar seus erros, preferi sorrir por suas qualidades. Por favor, mantenha meus pés no chão.

E você continua aqui. Posso voltar a sorrir?